Roberto Rillo Bíscaro
Quando resenhei o álbum novo do Muse, afimei
perguntando: “qual branquelo oitentista, querendo funkear, não chupou o baixinho de
Mineapolis?” Reconheço minha propensão á hipérbole, mas, em se tratando do
baixote Prince, não exagerei muito.
O multi-instrumentista pertence àquele seleto clube de alteradores
culturais, como Beatles, Smiths, Kraftwerk, Bowie. Especialmente nos anos 80,
algumas de suas canções definiram a sonoridade do momento. Tomaria tempo e
espaço demais demonstrar a influência ou tentativa descarada de cópia em cima
de Prince.
Álbuns que não foram
sucesso de massa, como Dirty Mind (1980), exerceram influência incalculável com
sua mistura de funk, new wave, rock. Guitarra e sintetizador. Jimi Hendrix com
Sly and the Family Stone. Álbuns não tão
inspirados, nem tão comercialmente exitosos, como Controversy (1981) trazem
petardos de pura libido. Ouça os gritinhos finos e o vocal “másculo” de
Sexuality, embalados pela malvada batida funk. James Brown com diva
funk-soul.
Prince é:
1) mistura de estilos e
atrevimento polimorficamente perverso. Borrando, cruzando, não se importando
com, transgredindo fronteiras musicais e de gênero. Homem, mulher, hetero, gay,
bi, o que é/era Prince? Ele sabe que pop é pose e libido.
2) controle despótico e ultraindividualista da obra: em muitos álbuns,
ele tocava todos os instrumentos no estúdio. Nos shows, a banda tinha que
seguir á risca até suas imposições de visual. Se não, ele despedia. Simples
assim. Na era da inauguração da MTV, o visionário sabia da importância da
imagem. Elvis, The Pelvis, também, ou alguém duvida que o rebolado demoníaco e
as costeletas exageradas não eram formas de diferenciação geni(t)ais? Os 2
jogam na mesma liga do panteão pop.
Quando a gravadora ameaçou não lançar Kiss, funk minimalista, o artista
mandou um recado: não lancem que eu não lhes darei mais singles. Claro que a
canção foi lançada e... foi pro número um, além de ser uma das coisas mais
criativas da carreira.
3) coragem e talento
pra experimentar. Em 1984, depois que When Doves Cry estava mixada, ele
simplesmente eliminou o baixo, que, junto com a bateria, geralmente são os
definidores da levada na canção pop.
Segundo consta, ele mormurou “ninguém vai acreditar nisso”. E assim foi. A canção é uma das coisas mais
chapantes da década com sua locomotiva sexy-edipiana de sintetizador, guitarra
serrada e aquele timbre da bateria eletrônica que Prince inventou e caracterizou
muito dos 80’s.
Pra aprender isso e muito mais, recomendo com veemência o documentário
Prince: The Glory Years, que coloca suas lentes de aumento precisamente na
década em que o Príncipe imperou. A ênfase é em canções, não álbuns, que,
claro, são citados, mas de cada um deles, um par de pérolas são pinçadas e
comentadas.
O tom predominante é de babação de ovo pelo trabalho do artista, mas
reconhece-se, por exemplo, que Nothing Compares 2 U só importa porque Sinead
O’Connor a reinventou em 1990.
E eu que nem sonhava que Prince sonha canções? Foi assim com Manic Monday
(1986), hit meio neo-psicodélico das Bangles. Prince sessentista? Sim, o músico
foi influenciado pelos Beatles e Joni Mitchell.
O documentário termina
com Batdance, seu último – e maior – single de sucesso arrasa-quarteirão. Dos
anos 90 em diante, Sua Alteza deixou de lançar tendência, embora não tenha
parado de compor canções memoráveis. Experimente Chelsea Rodgers, do álbum Planet
Earth (2007), e veja se consegue não mexer os pezinhos.
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