segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CAIXA DE MÚSICA 82


Roberto Rillo Bíscaro

Lana del Rey está reempacotada. Born to Die está sendo relançado com 8 faixas novas. A leitura de meu texto de fevereiro sobre o primeiro lançamento do álbum auxiliará no presente. Leia aqui.
A amada/odiada Del Rey não mudou sua personagem de musa de filme B anos 50 temperada com cinismo pós-moderno. Ora rampeira, ora sofredora. Investindo fundo em nossos fetiches mais recônditos; nos acenando com o prazer perigoso do sexo, do tabaco, da velocidade e do álcool. Tudo milimetricamente calculado.
Sonoramente, nada mudou também: climas trip hop embebedados em suntuosas orquestrações remetendo aos idealizados anos dourados.
Pra nós - colonizados a ponto de nos enganarmos de que quase somos um bocadinho norte-americanos – a “edição Paraíso” de Born to Die é uma coleção muito familiar de Americana (em inglês, refere-se a tudo relacionado àquele país).


As referências a sair pelo mundo de carro – meio sem destino – abundam. Aquela ideia ianque de liberdade, que mascara total falta de rumo. Ride abre o álbum nesse tom. Percussão esparsa, orquestração deslumbrante, épico irresistível com a voz superenfumaçada duma Del Rey fingindo cansaço existencial.
A lição em americanice explicita-se em American coma menção ao icônico Bruce “Born-in-the-USA-“Springsteen. Em meio ao dedilhado bluesy de Body Electric, Lana declara-se filha de Elvis, Walt Whithman e Marylin. Na gótica, premeditadamente herege e maravilhosa Gods & Monsters, La Lana revive Jim Morrison. Born To Die – Paradise Edition proselitiza a gente a ser ianque.

Brasileiro que não entende inglês me cansa a beleza quando reclama da “imoralidade” do funk carioca, enquanto consome canções ianques que têm um palavrão por cada linha (cacófato de propósito). Esse “puxadinho” de Born to Die tem sua quota de blasfêmias e palavrões. Gostaria de saber a reação dessas pessoas se entendessem o verso inicial de Cola, “my pussy tastes like Pepsi Cola”.
Mais importante que o faniquito é pensar no significado duma xoxota ter gosto de Pepsi. O refrigerante é derivativo (como a obra de Lana) dum dos símbolos d’americanidade. Se uma parte do corpo tem gosto desse símbolo, poder-se-ia intuir que a nacionalidade virou dado natural? Del Rey é del império norte-americano, crianças.
Atmosfera de trilha sonora de filme cinquentista é segunda natureza nos trabalhos dessa diva du jour. Blue Velvet foi regravada pra ficar com cara do filme oitentista homônimo de David Lynch. Deu saudade de Dennis Hopper e quase deu vontade de me importar com o diretor novamente.
Dentre tantas canções novas, minha favorita foi uma “velha”! Devotos conhecem Yayo – em versão diferente e inferior - desde os tempos do estouro da já clássica Video Game. A voz de Lana vai de grave a fina, de sazonada a angélica, de confiante a titubeante. Em meio à malemolência bluesy esparsa e cinemática, ela nos fustiga a libido com perversão de menininha: “deixa eu fazer um showzinho pra você papaizão/deixa eu fazer um showzinho pra você tigrão.” April Stevens vive.
Lana continua mundana. Que seja fabricada e imperialista; não me importa. Sigo súdito de Lana Del Rey. E de sua “mãe” Marylin.

Um comentário:

  1. Se é fabricada ou não, o mais importante é a inquestionável qualidade do trabalho dela. E a diversão que ele garante praqueles que sabem aprecia-lo...

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