Roberto Rillo Bíscaro
Lana del Rey está reempacotada. Born to Die está sendo
relançado com 8 faixas novas. A leitura de meu texto de fevereiro sobre o
primeiro lançamento do álbum auxiliará no presente. Leia aqui.
A amada/odiada Del Rey não mudou sua personagem de musa
de filme B anos 50 temperada com cinismo pós-moderno. Ora rampeira, ora
sofredora. Investindo fundo em nossos fetiches mais recônditos; nos acenando
com o prazer perigoso do sexo, do tabaco, da velocidade e do álcool. Tudo
milimetricamente calculado.
Sonoramente, nada mudou também: climas trip hop
embebedados em suntuosas orquestrações remetendo aos idealizados anos dourados.
Pra nós - colonizados a
ponto de nos enganarmos de que quase somos um bocadinho norte-americanos – a
“edição Paraíso” de Born to Die é uma coleção muito familiar de Americana (em inglês, refere-se a tudo
relacionado àquele país).
As referências a sair pelo mundo de carro – meio sem
destino – abundam. Aquela ideia ianque de liberdade, que mascara total falta de
rumo. Ride abre o álbum nesse tom. Percussão esparsa, orquestração
deslumbrante, épico irresistível com a voz superenfumaçada duma Del Rey
fingindo cansaço existencial.
A lição em americanice
explicita-se em American coma menção ao icônico Bruce
“Born-in-the-USA-“Springsteen. Em meio ao dedilhado bluesy de Body Electric,
Lana declara-se filha de Elvis, Walt Whithman e Marylin. Na gótica,
premeditadamente herege e maravilhosa Gods & Monsters, La Lana revive Jim
Morrison. Born
To Die – Paradise Edition proselitiza a gente a ser ianque.
Brasileiro que não entende inglês me cansa a beleza
quando reclama da “imoralidade” do funk carioca, enquanto consome canções ianques que têm um palavrão por cada linha (cacófato de propósito). Esse
“puxadinho” de Born to Die tem sua quota de blasfêmias e palavrões. Gostaria de
saber a reação dessas pessoas se entendessem o verso inicial de Cola, “my pussy
tastes like Pepsi Cola”.
Mais importante que o faniquito é pensar no
significado duma xoxota ter gosto de Pepsi. O refrigerante é derivativo (como a
obra de Lana) dum dos símbolos d’americanidade. Se uma parte do corpo tem gosto
desse símbolo, poder-se-ia intuir que a nacionalidade virou dado natural? Del
Rey é del império norte-americano, crianças.
Atmosfera de trilha sonora de filme cinquentista é
segunda natureza nos trabalhos dessa diva du jour. Blue Velvet foi regravada
pra ficar com cara do filme oitentista homônimo de David Lynch. Deu saudade de
Dennis Hopper e quase deu vontade de me importar com o diretor novamente.
Dentre tantas canções novas, minha favorita foi uma
“velha”! Devotos conhecem Yayo – em versão diferente e inferior - desde os
tempos do estouro da já clássica Video Game. A voz de Lana vai de grave a fina,
de sazonada a angélica, de confiante a titubeante. Em meio à malemolência
bluesy esparsa e cinemática, ela nos fustiga a libido com perversão de
menininha: “deixa eu fazer um showzinho pra você papaizão/deixa eu fazer um
showzinho pra você tigrão.” April Stevens vive.
Lana continua mundana. Que
seja fabricada e imperialista; não me importa. Sigo súdito de Lana Del Rey. E
de sua “mãe” Marylin.
Se é fabricada ou não, o mais importante é a inquestionável qualidade do trabalho dela. E a diversão que ele garante praqueles que sabem aprecia-lo...
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