Roberto Rillo Bíscaro
Ao resenhar os 2 primeiros álbuns da dupla canadenseCrystal Castles, predisse que tinham potencial pra se livrar da provável “maldição” que seu álbum de estreia engendrasse. O som de guerra de vídeo game era muito marcante e criativo, mas o segundo trabalho indiciava que poderia ser subsumido. E o foi, com distinção e louvor em Crystal Castles III, lançado este mês.
Ao resenhar os 2 primeiros álbuns da dupla canadenseCrystal Castles, predisse que tinham potencial pra se livrar da provável “maldição” que seu álbum de estreia engendrasse. O som de guerra de vídeo game era muito marcante e criativo, mas o segundo trabalho indiciava que poderia ser subsumido. E o foi, com distinção e louvor em Crystal Castles III, lançado este mês.
O som de baixa fidelidade das geringonças eletrônicas made in algum lugar da Ásia deu lugar a
uma electronica perturbadoramente
gelada, melancólica, assustadora e distópica na maior parte do tempo.
A luta que a voz quase sempre digitalmente tratada de
Alice Glass trava com a avalanche sintetizada é um estudo de caso pra analistas
das relações sociais no capitalismo tardio dentro da forma musical.
Os guinchos cedem espeço
pruma tentativa de humanização vocal. Às vezes, Glass soa como fadinha, ainda
que deprimida. Em Kerosene, ela promete docemente que protegerá o ouvinte de
tudo o que ela viu. Raro momento em que a letra pode ser facilmente decifrada.
Mas, o teclado grave e ameaçador nos faz duvidar de que consiga cumprir o
prometido.Essa tensão entre vocal e tecnologia desumanizadora atinge o ápice em Insulin, vinheta sincopada de electro-noise, onde a voz de Glass está incrustrada na barulheira. Ela tenta sair e o resultado é ouvirmos estilhaços dum vocal soterrado em bits amedrontadores.
Essa terceira encarnação está menos barulhenta, mas
atente pro estouro da barragem sônica no fim de Wrath of God. Parece que a onda
de detritos noise vem na direção dos
ouvidos. E traga o vocal sintetizado de Alice. Deve ser a ira de Deus do
título.
Em 2 momentos, o Crystal Castles consegue fazer canções
dance pralguma discoteca alienígena.
Sad Eyes é pra bater cabelo, mas a gente imagina uma pista compartilhada com
espíritos de robôs descartados. Violent Youth cairia bem numa rave intergaláctica, com companheiros de
dança de distantes andrômedas.
O encerramento soa como uma canção de ninar. Linda.
Delicada. Humana. Humana? O título é Criança, Machucarei Você.
O produtor Ethan Khat e a vocalista Alice Glass estão
compondo a trilha sonora eletrônica de muito desse época, onde a falsidade
humanista do “todos e todas” abre discursos opressores.
Eletrônica modelar e fundamental pra entender a pós-modernidade.
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