Se Aristóteles tiver razão, Ésquilo praticamente
inventou o teatro ocidental, porque foi o criador da tragédia. Foi assim: havia
um tipo de canto coral, chamado ditirambo (que ninguém nunca soube direito o
que era...). Daí, criaram uma personagem dialogando com esse coro. Ésquilo
colocou um segundo ator no palco. Se existe conflito, há ação dramática.
Resultado: teatro. Resta saber se a fragmentada Poética é exata, mas, jamais
teremos certeza.
Seguindo minha fase trágica, li As Suplicantes, onde
nada acontece a não ser uma personagem por vez dialogando com o coro. Essa
estrutura estática levou muita gente a crer que se tratava da tragédia mais
antiga existente, quase um ditirambo. Em 1952, um papiro reviravoltou o mundinho
dos estudos clássicos, datando As Suplicantes bem mais tardiamente. Não adianta
muito sonhar “linhas de desenvolvimento do trabalho esquiliano” quando temos
apenas 7 dum montante de dezenas de obras! Mas, há pessoas que parecem ter
tempo livre e óleo de peroba em abundância.
Única
sobrevivente da trilogia que conta a história das Danaides, As Suplicantes
também quebra a cara dos que conceituam tragédia como gênero que SEMPRE culmina
com a queda do herói e por ai vai.As Danaides – gregas vivendo no Egito - são filhas de Danao e foram prometidas em casamento aos primos. Danao era danado: teve 50 filhas! Elas fogem do Nilo com o pai e pedem asilo na Grécia. A peça consiste nos diálogos entre elas – que são o coro – e o pai, elas e o rei grego, a quem suplicam proteção, sem se furtarem de ameaçar suicídio.
Não dá muito pra saber se elas rechaçam o matrimônio
por repúdio ao caráter incestuoso ou por inclinações amazônicas. O rei lhes
concede asilo, após consulta ao povo.
Sem
ação dramática e recheada de alusões crípticas à mitologia, As Suplicantes é indicada pra
quem quer conhecer melhor o teatro clássico grego. Ainda há grupos montando,
mas pra ler requer certa paciência.
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