sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PAPIRO VIRTUAL 41

Se Aristóteles tiver razão, Ésquilo praticamente inventou o teatro ocidental, porque foi o criador da tragédia. Foi assim: havia um tipo de canto coral, chamado ditirambo (que ninguém nunca soube direito o que era...). Daí, criaram uma personagem dialogando com esse coro. Ésquilo colocou um segundo ator no palco. Se existe conflito, há ação dramática. Resultado: teatro. Resta saber se a fragmentada Poética é exata, mas, jamais teremos certeza.
Seguindo minha fase trágica, li As Suplicantes, onde nada acontece a não ser uma personagem por vez dialogando com o coro. Essa estrutura estática levou muita gente a crer que se tratava da tragédia mais antiga existente, quase um ditirambo. Em 1952, um papiro reviravoltou o mundinho dos estudos clássicos, datando As Suplicantes bem mais tardiamente. Não adianta muito sonhar “linhas de desenvolvimento do trabalho esquiliano” quando temos apenas 7 dum montante de dezenas de obras! Mas, há pessoas que parecem ter tempo livre e óleo de peroba em abundância.
Única sobrevivente da trilogia que conta a história das Danaides, As Suplicantes também quebra a cara dos que conceituam tragédia como gênero que SEMPRE culmina com a queda do herói e por ai vai.

As Danaides – gregas vivendo no Egito - são filhas de Danao e foram prometidas em casamento aos primos. Danao era danado: teve 50 filhas! Elas fogem do Nilo com o pai e pedem asilo na Grécia. A peça consiste nos diálogos entre elas – que são o coro – e o pai, elas e o rei grego, a quem suplicam proteção, sem se furtarem de ameaçar suicídio.
Não dá muito pra saber se elas rechaçam o matrimônio por repúdio ao caráter incestuoso ou por inclinações amazônicas. O rei lhes concede asilo, após consulta ao povo.
Sem ação dramática e recheada de alusões crípticas  à mitologia, As Suplicantes é indicada pra quem quer conhecer melhor o teatro clássico grego. Ainda há grupos montando, mas pra ler requer certa paciência.

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