Prometeu foi o titã que compensou a fragilidade humana
presenteando-nos com o fogo, roubado aos deuses. Ao nos proporcionar o
elemento, deu-nos a capacidade de desenvolver tecnologia. Se não tivesse sido
condenado por Zeus aos grilhões caucasianos e a ter o fígado devorado por ave
de rapina diariamente, poderia ser o deus do atual empreendedorismo.
Através de Hesíodo e Ésquilo, os Românticos elegeram
Prometeu como herói, pela sua pró-atividade, obstinação e individualismo que
repercute no coletivo. Basta como exemplo o romance Frankenstein, de Mary
Shelley, cujo título alternativo é The Modern Prometheus.
Seguindo a fase de leituras gregas, reli Prometeu
Acorrentado, cuja autoria esquiliana vem sendo contestada desde o século XIX.
Traços estilísticos fazem supor que a tragédia tenha sido escrita depois da
morte do ilustre tragediógrafo. Há quem diga que o Ésquilo em questão possa ser
seu neto.
Embora quase nada aconteça em cena – uma vez que apenas
temos pessoas visitando o acorrentado benfeitor da humanidade – uma grande
diferença pode ser notada em comparação com a maioria das obras sobreviventes
de Ésquilo: o papel minimizado do coro. O oposto do que vemos n’Os Persas e n’AsSuplicantes.
Ésquilo criou um Prometeu injustiçado por Zeus, a quem
ajudara na luta contra os titãs, mas que conhece o segredo de quando o próprio
senhor do trovão será destronado por um filho. Paciente, Prometeu sabe que se
revelar o segredo perderá seu único trunfo contra o tirano Zeus. Além do mais,
nosso herói sabe quem o libertará (Hércules), por isso, resistirá estoicamente
à arbitrariedade do chefe dos deuses.
Prometeu Acorrentado adverte sobre a transitoriedade
dos governos – ditatoriais ou não. Infelizmente, a peça ainda consegue reverberar
o horror da tortura, 25 séculos após sua escrita. Até quando?
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