Roberto Rillo Bíscaro
Entre outubro/2011 e janeiro02012, o Canal 9 argentino exibiu Los Sónicos, minissérie em dúzia de capítulos, cuja premissa empolgou-me.
Los Sónicos, primeira banda roqueira argentina a compor
letras em castelhano, tem suas atividades interrompidas porque um acidente
automobilístico, em 1968, deixa seu vocalista em coma. 43 anos depois, Kloster
acorda e, com os ex-integrantes retoma a carreira do grupo. Esplêndida
oportunidade pra representar, discutir e brincar com diferenças sócio-culturais,
afinal, o jovem deixara um mundo de rebeldia pra acordar em nosso meio
conformista século XXI. Sem contar que desperta com um corpo quase 70ão, mas
continua com a cabeça do jovem de 20 e poucos, que imitava Jim Morrison.
A
crítica elogiosa ao primeiro episódio no jornal La Nación aumentou a
expectativa. Federico Luppi no elenco garantia minha audiência. Por isso,
passei Los Sónicos na frente duma colina de coisas pra ver e me decepcionei.O programa teve boas ideias, como justapor as 2 épocas. Temos as personagens interpretadas por um ator jovem e outro na madurez e a reconstituição de época pareceu-me boa. Fartas doses de música sessentista, brincadeira esperta com a capa de Abbey Road, na abertura e trechos impagáveis mostrando os chavões de excesso roqueiro nos tios em turnê.
Mas, a trama nunca chegou realmente a me interessar.
Ficava dias sem ver episódio. Um dos únicos choques culturais explorados em
Kloster foi a total disseminação do cigarro quando de seu acidente e a
dificuldade de se fumar atualmente. Diversas vezes ele acendia cigarro em
locais proibidos e reclamava.
Psicologicamente não dava pra perceber muita diferença
entre seus companheiros com cabeça de terceira idade e o vocalista de mente
ainda jovem. Sem contar alguns rasgos de “rebeldia” descabidos como assaltar
uma loja de instrumentos musicais pra conseguir os instrumentos pra
reencarnação dos Sónicos ou desenterrar um cadáver pra reaver um medalhão. Se a
ideia era representar o despertar duma nova energia vital nos senhores sônicos,
havia outras formas.
A personagem de Luppi, que se exilara na Espanha devido
ao golpe de 76, aparece quase no fim com ideias estapafúrdias de que os velhos
são o novo lócus de revolução possível no capitalismo, uma vez que são sua
pedra no sapato, por não serem mais produtivos. Será que os roteiristas
esqueceram que o nicho de mercado da terceira-idade é alvo cobiçado?
Lidando com as vidas dos integrantes em 2 fases, quase
nenhum tema foi aprofundado e uma boa ideia fracassou, como boa parte dos
ideais sessentistas.
Talvez
seja essa a grande “lição” de Los Sónicos.
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