terça-feira, 6 de novembro de 2012

TELINHA QUENTE 57




Roberto Rillo Bíscaro

Entre outubro/2011 e janeiro02012, o Canal 9 argentino exibiu Los Sónicos, minissérie em dúzia de capítulos, cuja premissa empolgou-me.
Los Sónicos, primeira banda roqueira argentina a compor letras em castelhano, tem suas atividades interrompidas porque um acidente automobilístico, em 1968, deixa seu vocalista em coma. 43 anos depois, Kloster acorda e, com os ex-integrantes retoma a carreira do grupo. Esplêndida oportunidade pra representar, discutir e brincar com diferenças sócio-culturais, afinal, o jovem deixara um mundo de rebeldia pra acordar em nosso meio conformista século XXI. Sem contar que desperta com um corpo quase 70ão, mas continua com a cabeça do jovem de 20 e poucos, que imitava Jim Morrison.
A crítica elogiosa ao primeiro episódio no jornal La Nación aumentou a expectativa. Federico Luppi no elenco garantia minha audiência. Por isso, passei Los Sónicos na frente duma colina de coisas pra ver e me decepcionei.

O programa teve boas ideias, como justapor as 2 épocas. Temos as personagens interpretadas por um ator jovem e outro na madurez e a reconstituição de época pareceu-me boa. Fartas doses de música sessentista, brincadeira esperta com a capa de Abbey Road, na abertura e trechos impagáveis mostrando os chavões de excesso roqueiro nos tios em turnê.
Mas, a trama nunca chegou realmente a me interessar. Ficava dias sem ver episódio. Um dos únicos choques culturais explorados em Kloster foi a total disseminação do cigarro quando de seu acidente e a dificuldade de se fumar atualmente. Diversas vezes ele acendia cigarro em locais proibidos e reclamava.
Psicologicamente não dava pra perceber muita diferença entre seus companheiros com cabeça de terceira idade e o vocalista de mente ainda jovem. Sem contar alguns rasgos de “rebeldia” descabidos como assaltar uma loja de instrumentos musicais pra conseguir os instrumentos pra reencarnação dos Sónicos ou desenterrar um cadáver pra reaver um medalhão. Se a ideia era representar o despertar duma nova energia vital nos senhores sônicos, havia outras formas. 
A personagem de Luppi, que se exilara na Espanha devido ao golpe de 76, aparece quase no fim com ideias estapafúrdias de que os velhos são o novo lócus de revolução possível no capitalismo, uma vez que são sua pedra no sapato, por não serem mais produtivos. Será que os roteiristas esqueceram que o nicho de mercado da terceira-idade é alvo cobiçado?
Lidando com as vidas dos integrantes em 2 fases, quase nenhum tema foi aprofundado e uma boa ideia fracassou, como boa parte dos ideais sessentistas.
Talvez seja essa a grande “lição” de Los Sónicos.

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