Roberto Rillo Bíscaro
O Centro Cultural São Paulo disponibilizava LPs e
cassetes nos anos 80. Escolhíamos um álbum do catálogo, íamos a uma cadeira com
fone de ouvido e o funcionário punha o som.Sempre que passava férias na cidade,
escutava algo novo.
Uma vez, fui com amigos de Penápolis. Escolheram MPB;
eu, David Bowie, álbum: Scary Monsters (and Super Creeps), de 1980. Depois do
estouro comercial dos acessíveis Let’s Dance (83) e Tonight (84) – desprezados
pela crítica – deu vontade de me familiarizar com o que era chamada de fase
áurea do Camaleão do Rock.
Embora
minha paixão pela ultrajantemente chique Modern Love jamais tenha arrefecido, à
medida que tomava ciência de seu catálogo setentista, concordava que em termos
de criatividade, os anos 80 não foram o pico de David Bowie.
O inglês influenciou do glam ao punk, do new romantic à electronica, passando pelo indie
rock e grunge. De Queen a The
Cure, de Joy Division a Culture Club; todos devem a esse artista sempre às
voltas com o fantasma da esquizofrenia familiar. Seu irmão mais velho saltou
pra morte duma janela de hospício. No auge da fama, Axel Rose declarou que
jamais conhecera alguém tão perturbado como Bowie.
As mudanças de visual de Lady Gaga e de tia Madonna empalidecem diante das metamorfoses do Camaleão. Bowie
mudava de visual, apelido, sonoridade, personalidade. No inicio dos 70’s, era drag, a cara de Lauren Bacal, quando
declarou ser gay, depois bissexual. Depois, vieram a fase alienígena de Ziggy Stardust,
a fase Aladddin Sane, sem sobrancelha (sacaram o trocadilho? A lad insane –
doidérrimo de pó e medo de pirar de verdade), o Magro Duque Branco. O
autoexílio em Berlim, pra se desintoxicar e lançar as bases pro synth pop, junto com o Kraftwerk. E
tanta coisa mais!
E
sempre com alta qualidade. Decidiu fazer cinema: os críticos elogiaram seus
desempenhos. Em 80, invocou de conquistar a Broadway: sua interpretação d’O
Homem Elefante não tinha maquiagem deformante; ele representava a elefantíase
contorcendo rosto e corpo. Elogios da severa crítica teatral nova-iorquina.
Pintor, integra o conselho editorial duma das publicações mais inda área.
A importância desse homem está mais ou menos registrada
no documentário David Bowie: sound and vision (2002), disponível em inglês, sem
legendas no You Tube.
Nada de anônimo pra narrar!Jonathan Pryce alugou seu sotaque
podre de elegante pra contar um pouco da história de Mr. David Jones aka Bowie.
Desde
suas influências cinquentistas até os álbuns pós-comercialismo 80’s, o
documentário louva o músico, ao mesmo tempo em que traça introdução decente a
seu trabalho e vida pessoal. Porque o sobrenome Bowie, o relacionamento
conturbado com Angie (mas sem insinuações de brincadeirinhas com Mick Jagger),
a afirmação de sua heterossexualidade e comentários sobre vários de seus
álbuns, especialmente os 70 e 80tistas. Bowie é vasto e complexo demais pro
tempo duma partida de futebol; cada fase mereceria um programa, mas, como
aperitivo tá de bom tamanho.
Há algumas semanas, tabloides estamparam foto dum 60tão
em Nova York.Roupas simples, saco com lanche nas mãos. Aparência “comum”. Seria
David Bowie?,indagavam-se as manchetes.
O Camaleão é f***. Nos anos 70, escolheu ser ícone
apenas alguns passos acima do underground. Na década de 80, brincou de ser
megaestrela. Se entupiu de grana e voltou a ser alternativo. Após cirurgia
cardíaca, resolveu levar vida mais calma. Quando se anonimou, o fez tão bem que
colocou em dúvida até o faro-fino tabloideiro. Existe algo que não possa fazer?
a história mostra q nao existe gênio q seja "normal". Se assim fosse, a mesmice prevaleceria. Salve queen/king e outras realezas de DBowie.
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