segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

CAIXA DE MÚSICA 86


O Livro do Genesis XIV

Com Duke, o Genesis sentiu o doce sabor do sucesso de massa. O batera-vocalista Phil Collins escalara o Everest das paradas britânicas com sua estreia solo. Mike Rutherford e Tony Banks tinham motivos pra seguir com a transformação da banda.
Abacab (setembro de 1981) definitivamente marcou a transição do Romantismo prog pruma espécie de Modernismo rock de arena.
O nome meio dadaísta não significa nada. Originalmente, a faixa-título era dividida em seções batizadas com letras. Muda aqui, corta lá; num momento a ordem das seções era a,b,a,c,a,b.
Até a capa fugiu ao padrão progressivo-mitológico de Selling England By The Pound ou Trick of the Tail. A arte abstrata dava ar mais moderno ao grupo, que queria competir com seus pares reinantes da New Wave e do pós-punk. E não é que se deram bem? Abacab ficou meses nas paradas e colocou a banda no circuito das turnês em grandes estádios. Collins e Co. – com suas caras de semi-papais comuns – rivalizavam a adulação popular com os gatinhos do Duran Duran ou do Spandau Ballet.
Abacab deixa pra trás os rococós progressivos, os longos solos de teclado e abraça uma sonoridade mais agressiva, onde bateria e vocais estão em proeminência. Embora os membros sempre hajam negado, Collins assumia a chefia do Genesis. A produção abandona meio-tons pantanosos pra se tornar representante típica do lustre da época. Redondinha, bem ao gosto dos ascendentes yuppies.
Sempre achei os 7 minutos da faixa-título desnecessários. A tentativa de soar meio metal até que traz bons momentos (não metais, claro), mas a pouca variação no instrumental enjoa após o quarto minuto.
No Reply At All é uma delícia funkeada, com metais do Earth, Wind and fire e tudo! Nada a ver com o trabalho prévio do Genesis, enfurecendo fãs antigos, que vaiavam a banda em alguns shows da turnê de Abacab, quando material do álbum era executado. Até o sotaque de Phil está mais americanizado pra garantir maior aceitação no mercadão ianque. Note como ele pronuncia can’t nessa faixa e comparem com o can’t britanicão da maravilha prog Dodo/Lurker, esses sim, 7:30 minutos que valem a pena.
Phil está cantando pra c***** nesse álbum! A produção, o sucesso e a experiência desabrocharam um vocalista seguro e versátil. Ele abre o berreiro na rutherfordiana balada Like it or Not e faz diversas vozes na citada Dodo/Lurker e na ótima Me And Sarah Jane, que poderia ser definida como Tony Banks sobrevoa a Jamaica no inverno. Salpicos de reggae num puro clima Tony.
Em Man on the Corner, o Genesis prova que aprendera tanto de produção que pôde assumir a tarefa nesse álbum. O instrumental vai se adensando conforme o pathos aumenta, culminando com a poderosa bateria e os gritos de Collins. 
A necessidade/vontade de se contemporanizar resulta no maior tropeço genesiano, a infantiloide Who Dunnit. Punkosa, tentando ser palhaça, com letra besta. Constrangedora.
O Genesis entrara pra vencer no jogo pop oitentista. Perdeu fãs “históricos”, mas ganhou uma legião de admiradores de última hora, que desconheceriam pra sempre a era Gabriel ou mesmo os primeiros álbuns da era Collins.
Abacab colocou o Genesis na linha de frente. Parecia outro grupo, se comparado ao Genesis de 5 anos antes. Era outro universo, se voltássemos 7 anos e tomássemos The Lamb Lies Down on Broadway.
Abacab foi o último álbum a merecer algum respeito pela crítica. Os próximos seriam massacrados, mas Banks, Collins e Rutherford imperariam pelos próximos 10 anos. Mesmo que o Genesis ficasse conhecido como “o grupo do Phil Collins”, rei de facto.
Vamos ouvir Abacab?

Nenhum comentário:

Postar um comentário