quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

SOMBRA ALBINA


Descobri novo documentário sobre o assassinato de pessoas com albinismo em certas regiões africanas, mormente a Tanzânia. In The Shadow of the Sun foi dirigido por Harry Freeland. Traduzi a sinopse:

No coração do Lago Vitória, 3 horas no interior da Tanzânia, fica a ilha de Ukerewe, lar para uma grande comunidade de pessoas com albinismo – ausência congênita de pigmentação na pele, olhos e cabelo. Muitos albinos são mortos ao nascerem ou rejeitados pelas famílias. Os sobreviventes correm o risco de serem mortos devido a partes de seu corpo, usadas supersticiosamente por se acreditar que possuem poderes medicinais. Os 62 albinos da ilha formaram um grupo para compartilhar experiências e se apoiarem mutuamente.

Gravado ao longo de 4 anos – antes, durante e após uma onda de assassinatos brutais, que sacudiu o país - In The Shadow Of The Sun conta a história emocionante e íntima de 2 membros muito diferentes da comunidade. Conheceremos Vedastus, um adolescente amoroso que cuida de sua mãe terminalmente enferma e luta para achar seu lugar no mundo. Josephat, ativista pela causa albina, que luta para unir seu país e sonha em escalar as alturas do Monte Kilimanjaro. Conforme os assassinatos aumentam, Vedastus abandona a ilha em busca de segurança, ao passo que Josephat permanece e enfrenta os assassinos.
Desde o início dos crimes na Tanzânia, 62 pessoas foram mortas e ninguém foi condenado, apesar da prisão de 260 pessoas. Finalmente, depois de muita pressão internacional e seguindo as eleições da Sociedade Tanzaniana de Albinos, o governo sentenciou o enforcamento de 4 homens; primeira vez em 15 anos que a pena capital foi aplicada no país. Julgamentos de acusados continuam em diversas regiões. Consequência da campanha incessante de Josephat e da intervenção governamental, o futuro dos albinos tanzanianos parece mais promissor. 

Mais informações, em inglês, podem ser lidas aqui:

Uma entrevista com o documentarista:

Assassinato de Albinos na Tanzânia: In The Shadow of the Sun, de Harry Freeland

Jim Treadway

Não escolhemos a cor da pele ou o local de nascimento. Ma,s para os albinos tanzanianos, sua aparência os tornou uma subespécie humana, bastante caçada. “Somos mortos e esquartejados”, diz Josephat Torner, um dos albinos do documentário In The Shadow of the Sun, de Harry Freeland, que teve pré-exibição no Frontline Club, dia 26 de novembro.
Desde 2006, feiticeiros tanzanianos afirmam que partes de corpos albinos, quando usados em certas poções ou rituais, podem curar ou trazer prosperidade – uma promoção no trabalho, vitória em eleição, aumento do pescado ou mineração. 
“Me chamam de ‘remédio branco’, conta uma criança albina, acerca dos colegas na escola.
Freeland explicou:
“Há 3 tipos de responsáveis pelos assassinatos. Aqueles que não estão no filme, os que ninguém capturou, as pessoas realmente movimentando esse comércio, que movimenta milhões. Gente com muito dinheiro: oficiais do governo, policiais, pescadores, mineiros.... Esses rumores obviamente foram iniciados pelos feiticeiros. E, claro, os pobres da Tanzânia, que matam os albinos.”
No documentário, Freeland e Josephat entram emuma caverna para consultar um feiticeiro, que admite esconder-se atrás de árvores, esperando pelo momento certo para atacar um albino. Em outra cena, um amigo albino conta a Josephat como um homem pulou de uma árvore e tentou matá-lo, enquanto ele caminhava sozinho fora de sua casa à noite.  
“O medo é uma constante”, disse Josephat.
Josephat passa a vida viajando a lugares onde albinos têm sido mortos, conquistando o apoio de autoridades locais para dar palestras nas aldeias. 
“Se a sociedade me vê como sub-humano, então, tenho que achar uma solução, um modo de ser reaceito” ele explica.
“Josephat é muito solitário”, pondera Freeland. Ninguém mais faz o que ele faz. Ele não ganha quase nada, mas ele meio que deixa a família de lado e sai pelo país pra fazer essas coisas. Sempre achei isso maravilhoso”.
Freeland, Josephaat e muitos outros estão impactando. O Primeiro Ministro tanzaniano adotou 2 crianças albinas e suspendeu as licenças de todos os curandeiros do norte do país. Agora, eles têm que requerer uma nova, em um processo muito rigoroso. A Tanzânia elegeu seu primeiro membro albino do parlamento e em 2012 o número de assassinatos finalmente diminuiu em relação ao ano anterior.
Mesmo assim, a procura por partes de corpos albinos continua.
“Tanzânia é definitivamente a pior”, revelou Freeland, “mas isso está se espalhando para outros países. Tem havido crimes na Nigéria, África do Sul, Mali e Burundi. Como diria Josephat, ‘está se espalhando como fogo.’”

 (Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)

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