Roberto Rillo Bíscaro
No começo do ano, passei quinzena em Washington. Na bagagem, a segunda temporada de Downton Abbey, coqueluche entre telespectadores da PBS, rede mais “culta” dos EUA.
No começo do ano, passei quinzena em Washington. Na bagagem, a segunda temporada de Downton Abbey, coqueluche entre telespectadores da PBS, rede mais “culta” dos EUA.
Meu anfitrião copiou os arquivos e disse que começaria
a assistir de noite. Dia seguinte, vi Brian apenas ao anoitecer, após um dia
explorando os museus da capital estadunidense. Brinquei que a noitada anterior provavelmente
fora muito boa, uma vez que não o vira pela manhã. Ele confessou que varara a
noite vendo os 8 episódios; não conseguia parar, porque a série era viciante.
Downton-dependente, reservei dias de folga pra atacar a
terceira temporada. Não fui radical como o amigo, mas vi 5 episódios numa noite
e os 3 restantes na seguinte.
A
segunda temporada apresentara ligeira queda na qualidade/dramaticidade, devido
a certo desencontro entre conflitos pessoais e o tema social da guerra. Alguns
trechos não tinham o interesse da primeira temporada brilhante.A terceira vinda dos Crawley e de seus empregados traz de volta o drama e conflitos pessoais por que ansiávamos. A década de 1920 começa com Lord Grantham ficando sem fortuna e a ameaça de perder Downton Abbey. Como a série é novelão, seu genro Mathew está em vias de talvez receber inesperada herança, à qual anuncia que não aceitará, por motivos éticos. Durante 3 capítulos fingimos nos preocupar com o destino da vasta mansão. Como acreditar na perda da propriedade que batiza o show?
Faz parte de nosso papel de telespectador crer nas
tramas; aos escritores cumpre nos manter ocupados, entretidos e, sobretudo,
acreditando. E nisso, somos muito bem servidos, fingindo-nos de Crawleys de
nossos “empregados” Julian Fellowes e demais roteiristas.
Muita
coisa acontece nos 3 capítulos iniciais. A trama desacelera um bom bocado no
capítulo 4, mas, de repente, um choque muito bem bolado. Os roteiristas se
livram duma personagem querida, mas cujo papel não se encaixava mais muito bem
ao quadro dramático. A partir daí, a ação acelera-se de novo. Críticos
marxistas poderiam escrever laudas sobre o preço pago pela personagem por
“trair” sua classe e a cooptação de seu esposo. E
estariam sendo pertinentes.Alguns pontos desinteressantes: a chata personagem da Shirley "Insossa" Mclaine. Ainda bem que foram só 2 capítulos, decerto pra agradar ao público maduro ianque.
A permanência de Mr. Bates na cadeia esticou-se um
pouco demais.
Também acho que exageraram na aceitação que Lord
Grantham demonstra com relação ao incidente homossexual envolvendo Thomas. Reconheço
que conservadorismo/liberalidade individual não é algo homogêneo, mas tamanha
tolerância não combina com a personagem. Aliás, o ponto alto entre os
empregados foi a guerra entre Mrs. O’Brien e Thomas, antes aliados. O’Brian rules!
Downton Abbey continua sendo uma absorvente história
bem contada, onde o grupo é mais importante do que personagens individuais. Por
exemplo, com o casamento, Lady Mary perdeu muito de sua função dramática, mas
não nos ressentimos tanto porque ela segue integrada àquele pequeno coletivo,
tão importante que a temporada termina em atividade grupal e com a defesa dum
de seus membros.
Como não continuar Downton-dependente? E, à moda da
trágica Amy Winehouse, se quiserem me mandar pra rehab, a
resposta será: NO NO NO!
(Ah,
hoje à noite rola o especial de Natal, na ITV inglesa, extravaganza de 2 horas, na Escócia. Não vejo a hora de chegar
amanhã!)
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