sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

PAPIRO VIRTUAL 45

Roberto Rillo Bíscaro

Terei que pausar minha leitura das peças sofoclianas conhecidas de resenha ou comentário. Material séculos mais novo requer e merece minha atenção. Mas, antes da despedida temporária li Filoctetes, outro daqueles heróis de decisões imutáveis.
A trama se passa pouco antes do desfecho da guerra de Troia. Os oráculos vaticinaram que os gregos apenas venceriam com o esforço conjunto de Neoptólemo, filho do falecido Aquiles, e de Filoctetes, herdeiro das armas de Hércules.
Pra complicar, o grego Filoctetes ressentia-se mortalmente de seus compatriotas. Ao se dirigir à Troia, o soldado tivera o pé picado por uma serpente mágica. Como resultado, uma ferida com fedor insuportável e dor lancinante que o fazia gritar perenemente, levando seus companheiros ao desespero olfato-auditivo. O proto-maquiavélico Odisseu abandonou Filoctetes na ilha de Lemnos, onde esse último passou a viver solitário e tendo que prover seu sustento com o que caçava com o arco e flecha heraclianos.
Informado da essencialidade da presença de Filoctetes pra vitória helênica, Odisseu e o jovem filho de Aquiles retornam à ilha pra tentar trazer Filoctetes ao campo de batalha. Neoptólemo tenciona convencer Filoctetes pela honra e a verdade, representando os valores homéricos heroicos à moda de seu papai. Odisseu está muito mais preocupado com os fins. Vital é ganhar a guerra. Se pra levar Filoctetes de volta for necessário mentir e enganá-lo, tudo bem.
Como em Ájax, Sófocles contrapõe 2 formas de pensar e cria um protagonista mais teimoso do que impressora recusando-se a funcionar. Entretanto, o enredo da tragédia não permite a morte de Filoctetes, senão os gregos perderiam a guerra.
Como Sófocles acha a saída pra essa sinuca de bico, deixo como isca pra leitura da peça. Com coro razoavelmente discreto, contraposição intrincada de ideias e posturas, algumas reviravoltas, Filoctetes ainda segura o interesse em 2013. Certamente o fará por bom tempo. 

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