Interrompi
as leituras trágicas pra devorar tese sobre American Blues, coletânea de peças
do norte-americano Tennessee Williams. Finda e apreciada a fruição acadêmica,
voltei ao Sófocles pra mim desconhecido.
Li As
Traquínias sábado e pensei no infortúnio de haverem restado apenas 7 das 10
dúzias de tragédias escritas pelo grego. Comparada a Ájax ou Filoctetes, essa não
segura a onda.
O mito
hercúleo forneceas personagens. O herói voltava deprolongada campanha militar.
Sua dedicada esposa aguardava-o ansiosa, mas descobre que o maridão trazia
concubina em seu espólio de guerra (como Agamenon fizera com Cassandra). Pra
piorar, aprende que a investida contra a cidade fora ocasionada por tesão pela
bela Iole. Como Helena, a moçoila paga caro pela beleza extrema. Esses gregos e
sua insistência na moderação.
Temerosa de
perder Hércules, Dejanira lembra duma poção com que o centauro Nesso a
presenteara momentos antes de expirar.
Garantida pra segurar macho. Só
que a causa mortis de Nesso fora o próprio Hércules. Claro que o homem-cavalo
estava sacaneando Dejanira, que cai como patinha. Ela besunta uma túnica heracliana
com o unguento e o resultado é dor insuportável, porque o corpo do grandalhão
literalmente começa a derreter sob o tecido. Pra pagar por sua ingenuidade
(burra demais!), Dejanira suicida-se. Héracles também não tem escolha senão se
autoimolar, posto sua capa estar grudada em sua carne derretida.
Difícil
empatizar com os protagonistas: o infiel Hércules e a estúpida esposa. Mas, a
tragédia grega não implicava em empatia. Tínhamos que sentir terror e piedade
pela queda de gente socialmente muito elevada. Se esses desastres aconteciam com
semideuses, quem dirá os pobres mortais espectadores!
Mesmo assim, não dá pra deixar de perceber que o
sofrimento de Hércules – e o fato de ser homem e herói – deve ter lhe granjeado
a pena da plateia. Longas e dramáticas
suas falas reclamando da dor e tentando entender o porquê de tamanha provação.
Na Grécia Antiga a explicação era fácil: porque os deuses
quiseram. Ainda bem que em nosso avançadíssimo estágio civilizatório deixamos
esse exagero pra trás, não?
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