terça-feira, 1 de janeiro de 2013

TELINHA QUENTE 65


Roberto Rillo Bíscaro


O grande público anglo-saxão não aprecia ler legendas, mas a série policial dinamarquesa Forbrydelsen deu tiros nessa barreira e virou fenômeno cult na BBC4, onde as 3 temporadas foram exibidas legendadas. Forbrydelsen foi vendida pro mundo todo (alguma Globosat a exibe aqui) e inspirou refilmagem norte-americana.
Elogiei a primeira e segunda temporadas e continuo fã da Inspetora Chefe Sarah Lund.
Os 10 capítulos da terceira aventura da detetive correspondem aos dias de investigação do sequestro da pequena Emilie Zeuthen, filha do chefão da Zeeland, empresa responsável por boa parte do PIB danês. Devido à recente crise global do capitalismo, o conglomerado ameaçava transferir sua produção pra barata semi-escravidão asiática, o que ferraria os planos de reeleição do primeiro-ministro Kristian Kamper. Como nas temporadas anteriores, os níveis pessoal, econômico e político apresentam-se imbricados.
Entremear instâncias tão diversas, constituídas por personagens e situações tão poderosas dissolve o protagonismo de Sarah Lund. São tantas reviravoltas, envolvendo interesses de todas as personagens que a policial não pode assumir a função de condutora da investigação. Ela partilha sua incerteza conosco, decepcionando telespectadores acostumados á fórmula centrada no poder do indivíduo. Somos jogados de canto a outro duma Dinamarca invernal, soturna e molhada.

Comparar o tratamento do caso dos pobres Birk Larsen da temporada inicial com o dos influentes Zeuthen - dos quais depende a sobrevivência política do primeiro-ministro – desmascararia muito da falácia da igualdade social escandinava. Também útil perceber que mesmo a tão civilizada península jutlândica ainda precisa contar histórias taliônicas.
O sequestro da loirinha Emilie chacoalha o país, devido a sua classe social, e, em nível individual afeta a vida de todas as personagens, devastadoramente. O final de Forbrydelsen III é o melhor até agora, mas desagradou muitos que gostam da “normalidade” restaurada enquanto rolam os créditos de enceramento.
A atriz Sofie Gråbøl e os produtores juram que esse foi o derradeiro caso de Sarah Lund. Malgrado meu entusiasmo pela série, devo concordar com a decisão. Diversas situações e cenas da primeiratemporada repetem-se na terceira e o vingador do estupro e morte da filha parecia o vilão da argentina Epitáfios: possui recursos econômicos e logísticos digno dum pequeno comando, está sempre passos á frente da polícia e consegue acesso a locais improváveis. Nada contra Epitáfios, que amo demais, demais da conta, mas, a proposta de Forbrydelsen era mais realista e isso começou a deteriorar.
Pra conservar a excelência, melhor parar enquanto se está no topo da forma. Forbrydelsen foi formidável.

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