terça-feira, 8 de janeiro de 2013

TELINHA QUENTE 66

Roberto Rillo Bíscaro

Estando mais televisivo do que cinéfilo e com mais tempo, devido a quase 2 semanas de folga, vi 2 telefilmes no dia de Ano Novo.
À tarde, Mr. Stink, especial infantil de Natal da BBC, adaptado dum livro inglês de sucesso. Não sou afeito a sujeira, mas como o filme dura 1 hora, dei oportunidade ao Sr. Fedor, um Cascão adulto e sem teto.
Uma pré-adolescente classe-média vivendo com mãe dominadora, pai banana e irmãzinha “modelo”, discriminada pelas garotas mais populares da escola, torna-se amiga de Mr. Stink, morador de rua inimigo de banho, que emporcalha o ambiente com sua catinga (argh!). Crianças curtem, tudo bem, eu é que sou um 40tão enjoado.
A mensagem é edificante: não discriminemos os moradores de rua, merecedores de respeito e políticas públicas como todo mundo. O telefilme tem momentos divertidos e boas sacadas naquele estilo bem individualista anglo-saxão. Ao lavar o casaco de Mr. Stink, sem sua permissão, Chloe leva bronca dele, que afirma que caridade não deve ser autoritária.
Desagradou-me que Mr. Stink fora um lorde, que, ao perder sualady num incêndio em sua mansão, optara por tornar-se andarilho. Esse tipo de boa intenção é bastante duvidosa.
Como “defender” os sem teto, que em sua maioria não escolheu a precariedade econômica, usando como modelo um ex-membro da classe proprietária, que, por definição, é responsável pela escassez de muitos, uma vez que concentra em suas mãos, o grosso do finito capital?
Em termos narrativos a contradição não é menor. A narrativa burguesa ao singularizar o protagonista através do batismo da obra com seu nome atribui a ele algo distintivo dos demais.Luciola não era como as demais cortesãs e por aí vai. Assim, Mr. Stink não é como os demais sem-teto; é especial. Tanto é que não há outro sem-teto no filme. Essa especialidade constrói-se então, por ele não pertencer efetivamente ao que se costuma imaginar por um destituído?
À parte esses questionamentos,implodidores das boas intenções, foi divertido ver Hugh Bonneville em registro cômico, como Mr. Stink. Hugh é o Lord Grantham de Downton Abbey. Essa deve ter sido a razão pra terem-no escolhido pra interpretar o decaído Lord Darlington de Mr. Stink. Pra mim, foi o motivo pra eu ter assistido ao especial.

À noite, vi The Girl, coprodução HBO/BBC sobre a controvertida história de assédio psicossexual que Alfred Hitchcock teria infligido à atriz Tippi Hedren, mãe da também atriz Melanie Griffith.
Hedren era modelo sem experiência no cinema, quando Hitch escalou-a como protagonista d’Os Pássaros (1963). Fascinado por loiras, o diretor apaixonou-se pela moça, tentou seduzi-la, estuprá-la e, em face da rejeição, passou a persegui-la e torturá-la física e psicologicamente. Uma das atitudes mais cruéis foi fazê-la repetir dezenas de vezes uma cena onde pássaros de verdade a atacavam, até que a atriz sangrasse. Hedren alega que o diretor destruiu sua carreira, ao mantê-la presa ao contrato de 7 anos, depois que ela resolveu jamais filmar com ele.
The Girl despertou a ira dos fãs de Hitch, que se ressentiram do ataque ao ídolo. Responderam detonando Tippi (ela pode ser atacada, o comportamento de Hitch não pode ser posto sob suspeita). Colegas de trabalho, como a também loira Kim Novak, defenderam o mestre do suspense. Um balaio de gato, diria minha mãe.
Jamais saberemos a verdade, uma vez que o diretor está morto há décadas. E aí mora o perigo dessas narrativas: pra se tornar “verdade” é um pulo! The Girl é uma versão dos fatos, assim, como o Dom Casmurro também o é. A de Bentinho. Prefiro entender The Girl como algo que pode ter acontecido. Ou não. Ou acontecido num meio-termo.
Toby Jones está bem imitando Hitchcock, representado como fisicamente repulsivo, consciente disso e sofrendo muito pela feiúra. Não admira o retrato ser esse, visto o filme ser feito sob o ponto de vista de Tippi, bem caracterizada por Sienna Miller, um anjo de candura, totalmente “inocente”.Tal horizontalidade num drama supostamente psicológico acaba atraindo a atenção pra coadjuvante Imelda Staunton, que afana as cenas em que aparece, vivendo Alma Hitchcock, a dúbia (nos termos do filme) esposa do diretor.
E, pra falar bem a verdade, há trechos que vão do nada a lugar algum.
Enfim, The Girl é apenas mais um filme que capitaliza a partir dum voyerismo meio mórbido nosso de querer saber como vivem os famosos.
Na boa? O ponto alto da maratona televisiva do Ano Novo foi o par de episódios da oitava temporada de Married With Children (Um Amor de Família) Ed O’Neill rocks!. 

2 comentários:

  1. a psicanálise deve explicar ou qquer outra ciência ou seita!...nunca fui fã de Hitch...concordo c sua mãe "um balaio de gato" o mundo de nossos ídolos...

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