Crônicas da Surdez, de Paula Pfeifer,
será lançado dia 20 de março, na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country.
Nascida há 31 anos em Santa Maria, onde vive até hoje, Paula enfrenta dificuldades auditivas desde os cinco anos. “A causa e início da minha deficiência auditiva são desconhecidas”, afirma. Em seus blogs, ela se revela uma mulher bonita, produzida, bem-humorada. Do tipo que faz do limão uma limonada. Em Crônicas da Surdez, o livro, ela reuniu apenas alguns textos encontrados no blog. Os outros são inéditos. No final da obra, estão “depoimentos de profissionais das mais variadas áreas (de médicos a oficiais de chancelaria do Itamaraty) que também têm deficiência auditiva, são surdos oralizados e levam vidas produtivas e independentes”.
Depois da noite de autógrafos em Porto Alegre, Paula pretende continuar viajando muito e “lançar o livro em várias cidades do país para poder conhecer os leitores do Crônicas que estão espalhados por aí”. Prepare-se para recepcioná-la no dia 20, lendo a entrevista que ela nos concedeu por e-mail:
- Sul 21 – Em uma das crônicas revelas um dos teus medos: ir à praia com aparelho, correndo o risco de arruiná-lo com a maresia. Ficas na dúvida entre não usá-lo e permanecer no silêncio, sem a alegria de, além de sentir, ouvir o mar, ou usá-lo, o que acabas fazendo, e te deliciares com o barulho da água. O medo te ataca em outras ocasiões? Como o superas?
- Paula - Acho que medo não seria a palavra certa, mas sim saudade. Tenho medo de ir à praia com os AASI (aparelho de amplificação sonora individual), mas a saudade de ouvir o mar e as ondas fala mais alto. Uma pena que eu não possa entrar no banho com eles para matar a saudade de ouvir a água do chuveiro caindo como uma cachoeira no chão.
- Sul 21 – Quais as maiores dificuldades que sentes ao iniciar um novo relacionamento, seja profissional, de amizade ou amoroso?
- Paula - Fazer com que a pessoa nova compreenda e se adapte a alguns truques básicos: falar sempre de frente para mim, articular bem os lábios, não querer conversar no escuro, de preferência me cutucar quando quiser falar comigo em vez de ficar chamando, se eu estiver de costas. E entender que não gosto de ir a lugares escuros e barulhentos.
- Sul21 – Dizes que não gostas de falar em superação, porque ninguém supera uma deficiência. Mas, viver num mundo tão agitado, tão rápido e tão cheio de sons diferentes não é uma superação para todos nós, com ou sem deficiência auditiva?
- Paula - Ninguém supera uma deficiência, apenas adapta-se a ela.
- Sul 21 – Gostas de viajar e já viajaste bastante. A deficiência auditiva, de alguma forma, te dificulta conhecer novos países, novos idiomas, novas culturas? Tens algum caso marcante para contar?
- Paula - Contei muitos causos em sete páginas da revista da TAM de maio de 2012, número 53 (http://www.tamnasnuvens.com.br/revista/site/), que circulou em todos os voos nacionais e internacionais da companhia. Não dificulta nem um pouco, é uma questão de adaptação, planejamento e acessibilidade.
- Sul21 – Qual a maior falha da sociedade brasileira em relação às pessoas com deficiência auditiva?
- Paula - A desinformação. A mídia ajudou a noticiar, desde sempre, informações equivocadas. “Todo surdo é mudo, todo surdo usa língua de sinais, a língua de sinais é a língua natural do surdo, todo surdo precisa de intérprete e estuda em escola especial”. E os surdos oralizados, como eu, que não são e nem fazem nada disso? A surdez é uma deficiência HETEROGÊNEA, existem diferentes tipos e graus de surdez. Surdos oralizados têm necessidades diferentes dos surdos sinalizados. Nós nos comunicamos através da fala como qualquer ouvinte, utilizamos a tecnologia para voltar ao mundo dos sons, dominamos a nossa língua materna (português) em sua modalidade escrita e falada, falamos outros idiomas – mas, quando desligamos o aparelho auditivo ou o implante coclear, somos tão surdos quanto aqueles que não podem/querem ouvir.
- Sul 21 – Em um dos teus textos falas sobre a tragédia de Santa Maria. Dizes que ela te levou a pensar nas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência auditiva em casos de emergência. O que achas que as casas de lazer – boates, bares, cinemas, teatros – deveriam oferecer e não oferecem aos que não ouvem ou ouvem pouco?
- Paula - Acessibilidade em cinemas e teatros para quem não ouve é simples e fácil: legendas! Em boates e bares uma sinalização das saídas de emergência bem visível.
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=37090
Núbia Silveira
Surda oralizada, Paula se diz feliz,
muito feliz, por ter conseguido editar pela Plexus a história de sua vida.
“Conto todas as experiências por que passei em função da deficiência auditiva e
que achei interessantes de dividir com as pessoas”, diz ela, autora do blog (http://cronicasdasurdez.com/)
com o mesmo nome, que mantém desde 2010. Dedicado à deficiência auditiva, o
blog conta com 30 mil a 35 mil visualizações mensais. Maior sucesso ainda é o
Sweetest Person (http://sweetestpersonblog.com/),dedicado à
moda, maquiagem, turismo, literatura e outros assuntos. Lançado em 2007, soma
de 300 mil a 350 mil visualizações por mês. O que era um hobby “acabou virando
quase um trabalho”, afirma Paula, cientista social, formada pela Universidade
Federal de Santa Maria, que exerce as funções de técnica do Tesouro do Estado
do Rio Grande do Sul.Nascida há 31 anos em Santa Maria, onde vive até hoje, Paula enfrenta dificuldades auditivas desde os cinco anos. “A causa e início da minha deficiência auditiva são desconhecidas”, afirma. Em seus blogs, ela se revela uma mulher bonita, produzida, bem-humorada. Do tipo que faz do limão uma limonada. Em Crônicas da Surdez, o livro, ela reuniu apenas alguns textos encontrados no blog. Os outros são inéditos. No final da obra, estão “depoimentos de profissionais das mais variadas áreas (de médicos a oficiais de chancelaria do Itamaraty) que também têm deficiência auditiva, são surdos oralizados e levam vidas produtivas e independentes”.
Depois da noite de autógrafos em Porto Alegre, Paula pretende continuar viajando muito e “lançar o livro em várias cidades do país para poder conhecer os leitores do Crônicas que estão espalhados por aí”. Prepare-se para recepcioná-la no dia 20, lendo a entrevista que ela nos concedeu por e-mail:
- Sul 21 – Qual o maior desafio diário
de uma pessoa com deficiência auditiva?
- Paula Pfeifer - Na minha opinião, é
não conseguir captar as informações e conversas com a rapidez de uma pessoa que
ouve. Nesse sentido, temos muito mais trabalho.- Sul 21 – Em uma das crônicas revelas um dos teus medos: ir à praia com aparelho, correndo o risco de arruiná-lo com a maresia. Ficas na dúvida entre não usá-lo e permanecer no silêncio, sem a alegria de, além de sentir, ouvir o mar, ou usá-lo, o que acabas fazendo, e te deliciares com o barulho da água. O medo te ataca em outras ocasiões? Como o superas?
- Paula - Acho que medo não seria a palavra certa, mas sim saudade. Tenho medo de ir à praia com os AASI (aparelho de amplificação sonora individual), mas a saudade de ouvir o mar e as ondas fala mais alto. Uma pena que eu não possa entrar no banho com eles para matar a saudade de ouvir a água do chuveiro caindo como uma cachoeira no chão.
- Sul 21 – Quais as maiores dificuldades que sentes ao iniciar um novo relacionamento, seja profissional, de amizade ou amoroso?
- Paula - Fazer com que a pessoa nova compreenda e se adapte a alguns truques básicos: falar sempre de frente para mim, articular bem os lábios, não querer conversar no escuro, de preferência me cutucar quando quiser falar comigo em vez de ficar chamando, se eu estiver de costas. E entender que não gosto de ir a lugares escuros e barulhentos.
- Sul21 – Dizes que não gostas de falar em superação, porque ninguém supera uma deficiência. Mas, viver num mundo tão agitado, tão rápido e tão cheio de sons diferentes não é uma superação para todos nós, com ou sem deficiência auditiva?
- Paula - Ninguém supera uma deficiência, apenas adapta-se a ela.
- Sul 21 – Gostas de viajar e já viajaste bastante. A deficiência auditiva, de alguma forma, te dificulta conhecer novos países, novos idiomas, novas culturas? Tens algum caso marcante para contar?
- Paula - Contei muitos causos em sete páginas da revista da TAM de maio de 2012, número 53 (http://www.tamnasnuvens.com.br/revista/site/), que circulou em todos os voos nacionais e internacionais da companhia. Não dificulta nem um pouco, é uma questão de adaptação, planejamento e acessibilidade.
- Sul21 – Qual a maior falha da sociedade brasileira em relação às pessoas com deficiência auditiva?
- Paula - A desinformação. A mídia ajudou a noticiar, desde sempre, informações equivocadas. “Todo surdo é mudo, todo surdo usa língua de sinais, a língua de sinais é a língua natural do surdo, todo surdo precisa de intérprete e estuda em escola especial”. E os surdos oralizados, como eu, que não são e nem fazem nada disso? A surdez é uma deficiência HETEROGÊNEA, existem diferentes tipos e graus de surdez. Surdos oralizados têm necessidades diferentes dos surdos sinalizados. Nós nos comunicamos através da fala como qualquer ouvinte, utilizamos a tecnologia para voltar ao mundo dos sons, dominamos a nossa língua materna (português) em sua modalidade escrita e falada, falamos outros idiomas – mas, quando desligamos o aparelho auditivo ou o implante coclear, somos tão surdos quanto aqueles que não podem/querem ouvir.
- Sul 21 – Em um dos teus textos falas sobre a tragédia de Santa Maria. Dizes que ela te levou a pensar nas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência auditiva em casos de emergência. O que achas que as casas de lazer – boates, bares, cinemas, teatros – deveriam oferecer e não oferecem aos que não ouvem ou ouvem pouco?
- Paula - Acessibilidade em cinemas e teatros para quem não ouve é simples e fácil: legendas! Em boates e bares uma sinalização das saídas de emergência bem visível.
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=37090
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