segunda-feira, 4 de março de 2013
EXPECTATIVA X QUALIDADE (DE VIDA)
''Na Califórnia, você pessoas se exercitando às 5h15 e isso ou faz bem a
elas ou faz parte de uma psicose neurótica séria na qual elas estão infelizes
porque estão ficando mais velhas'', afirma Ed Saxon, que produziu o filme Fast
Food Nation, em 2006.
''Uma pessoa de 55 anos que imagina que deva se parecer com alguém de
25, se submetendo a cirurgias e se exercitando fanaticamente para que isso
aconteça, tudo isso me parece uma má ideia. A obsessão em parecer mais jovem do
que você realmente é."
Além da loucura em torno da forma física, existem os conselhos
incessantes em torno do que se deve comer para permanecer jovem. Eu deveria
tomar mirtilo, couve batida ou comer torrada sem glúten? E vinho tinto faz bem
para mim ou não? E quanto ao chocolate?
Pode ser desconcertante, mas o objetivo é claro. A morte tem de ser
adiada o máximo possível.
Incapacidade prolongada
''Nos Estados Unidos, se assume como fato que a longevidade é algo
bom'', afirma Susan Jacoby, autora do livro Never Say Die (Nunca Diga
Morrer, em tradução literal).
''Muito dessa crença irracional de que há coisas que você pode fazer
para se assegurar contra a velhice e a doença tem a ver com o fato de que nós,
nos Estados Unidos, realmente não gostamos de envelhecer'', comenta a
escritora.
Jacoby, de 67 anos, faz duras críticas ao que chama de ''lixo de estilo
de vida'' e ''lixo de suplementos alimentares''.
''Se você for olhar com mais atenção para essas pessoas que te dizem que
você pode ser uma pessoa saudável aos 120, existe um homem ou uma mulher
vendendo alguma coisa'', comenta.
A verdade, diz a autora, é que a maior parte das pessoas que vivem além
dos 90 irão morrer após passar ''um período prolongado de incapacidade''.
''Nós estamos acreditando nesse mito de que como estamos atualmente mais
saudáveis do que nunca aos 67 anos, estaremos assim também aos 87 ou aos 97.
Mas a verdade é que graças a alguns avanços duvidosos da medicina moderna, que
mantém pessoas vivas não importa o quê, é que será preciso refletir mais sobre
como cuidar dessas pessoas.''
Em 1980, James Fries, professor de medicina da Universidade de Stanford,
anteviu uma sociedade em que doenças crônicas seriam adiadas e reduzidas. Nessa
sociedade, pessoas levariam vidas saudáveis e morreriam de forma relativamente
rápida, reduzindo a quantidade de deficiência e incapacidade.
Fries chamou a isso de ''morbidez comprimida'' e seu trabalho foi creditado
como o marco das origens do paradigma moderno para se envelhecer de forma
saudável.
O problema é que é mais fácil aconselhar pacientes sobre como prolongar
suas vidas saudáveis do que reduzir qualquer período de saúde em declínio.
Boa morte
Joseph e Anne Gias são um casal saudável na faixa dos 60 anos, mas eles
se preocupam com os percalços da velhice. ''Não quero passar dos 80. Eu creio
que entre os 80 e os 85 as pessoas se deterioram muito. Já vi muita
deterioração nessa faixa etária e não quero que isso aconteça comigo'', afirma
Anne.
A despeito dos temores de Anne, há exemplos de pessoas que levaram vidas
longas e saudáveis. Quando Besse Cooper morreu em dezembro do ano passado, aos
116 anos, ela era a mulher mais velha do mundo.
De acordo com relatos, ela estava com uma saúde incrível e nunca se
queixou de dores. Ela levava uma vida ativa e se recusava a comer
''porcarias''.
No seu último dia de vida, ela comeu um generoso café da manhã, fez o
cabelo e viu um vídeo de Natal com amigos.
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