Roberto Rillo bíscaro
Prefiro que contato com alienígenas não aconteça
enquanto me encontrar neste planeta. E se os ETs representarem pros terráqueos
o que os europeus significaram pros ameríndios?
Parece que o inglês H. G. Wells compartilhava meus
temores. Li A Guerra dos Mundos (1898), cujo famoso e copiado enredo é sobre
uma invasão marciana na Terra. Durante 2 semanas, a Inglaterra – simbolizando o
mundo – é aterrorizada pelos invasores, que fugiam da extinção devido ao
esfriamento do planeta vermelho.
Século depois, ainda notamos o legado de Wells no mundo
da ficção científica. Lembram-se da cena em Independence Day (1996), na qual um
grupo que dava boas vindas aos alienígenas é frito? The War of the Worlds tem
uma igualzinha quase.
Na virada do século XIX pro XX, a mecanização estava
bastante incompleta, mesmo na adiantada Inglaterra. Sujeito viajava de trem de
Londres a Manchester, mas ia de charrete da estação pra casa. A restrita
condição de possibilidade de Wells pra pensar mais ciberneticamente torna a
leitura muito curiosa em nossa era internética. São raios de calor e fumaças
negras venenosas dos marcianos, combatidas com armas humanas carregadas em
lombo equino. Isso sem contar a inexistência de foguetes (nem avião havia ainda
na época): os Vermelhos vêm à Terra em capsulas disparadas por um tipo de
canhão, desde Marte! E o alumínio é o máximo em termos de metal.
Os textos políticos de H. G. Wells mostram um crente na
supremacia branca, que chegou a afirmar que negros e amarelos pereceriam na
ordem natural evolutiva. Darwin e Spencer gritando!
Na Guerra dos Mundos nem os superiores brancos (ironia ligada)
merecem crédito, porque os invasores não são derrotados por engenho humano.
Wells e Augusto dos Anjos tinham muita fé no poder dos vermes e bactérias!
A falta de agência expressa no tema obviamente encontra
expressão formal e o narrador é interessante exemplar de protagonista que
protagoniza nada, apenas vê a ação passar ou dela foge ou se esconde. Tá mais
pra testemunha do que protago.
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