Roberto Rillo Bíscaro
Sinto desconforto com a rapinagem cultural com relação à Índia. Frequentemente, a pobreza crônica serve como bálsamo pra ocidentais de carteira cheia descobrirem a profunda sabiduria da simplicidade e escreverem a respeito desde seus condos na rica New England, comendo comida indiana comprada na lojinha do imigrante.
Por essas e outras relutava em ver The Best Exotic Marigold Hotel (O Exótico Hotel Marigold, no Brasil), inesperado sucesso britânico do ano passado. Sabia que o faria, porém. Não deixaria passar um filme com Judi Dench, Maggie Smith, Tom Wilkinson, Bil Nighy e Penelope Wilton (recente adição ao panteão de amados, graças às 3 temporadas de Dowwnton Abbey). Uma produção sobre a terceira idade ter bombado mesmo na mentalmente adolescente bilheteria norte-americana apenas aumentava a certeza de vê-la.
Domingo à noite, enfrentei as 2 horas da produção e encantei-me com o grupo de aposentados britânicos que por distintos motivos deixa a cara Inglaterra em busca de retiro confortável e barato em Jaipur. Ao chegar, descobrem que o hotel é muito menos chique do que o descrito nos panfletos e têm que se adaptar à nova realidade. Ou não.
A forma da comédia romântica determina final feliz/redentor e a opção de focar um grupo de personagens implica que um par delas tenha função meio cosmética. O Exótico Hotel Marigold também não escapa da representação da Inglaterra como sítio sem cor e frio em comparação ao estouro solar e sensorial indiano.
Apesar de duvidar do simplista “tudo vai ficar bem e se ainda não ficou é porque não acabou” que o simpático – meio mentiroso – indiano dono do hotel usa como lema, achei acertado que nem todos os hóspedes se acostumem com o ambiente e achem que sua nativa Inglaterra é melhor e que o misticismo hindu não tenha servido como mola pra epifanias. Bacana ver uma Índia em transformação, onde o sistema de castas seja problematizado (preciso ver como o cinema do país retrata isso, se é que o faz), ainda que a resolução seja fácil demais. É comédia romântica...
Filme pra se sentir bem, O Exótico Hotel Marigold traz um Tom Wilkinson que rouba todas as cenas devido à complexidade de sua personagem (tadinho!). Com um elencaço desses, apenas um diretor muito ruim erraria na mão, o que não é o caso de John Madden.
Sem se aprofundar em quase nada, com personagens que despertam ternura (mas não só), o filme dá injeção de ânimo e deveria servir como despertador pros estúdios sobre o público mais maduro, que não se importa/identifica com vampirinhos de butique ou comédias sobre iniciação sexual.
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