A
seção de literatura traz amostra do trabalho do jovem Gabriel Jodas, graduando
em Letras, da cidade de Birigui (SP). Esse quesito facilitou sua
entrada no mundo poético. Ao longo do ano passado, Gabriel pôde alimentar seu
espírito com obras de Azevedo, Drummond, Pessoa, Byron, dentre outros cânones
literários. Com isso, a inspiração poética adentrou-o com garras e sem ímpeto
de misericórdia, gerando em lágrimas ociosas longas folhas regradas de
sarcasmo, erotismo e melancolia.
Alegria não Constrói
Poesia
Escrevo linhas de agonia, a alma enche-se de rancor e
ódio e assim as folhas se completam desesperadamente tentando afogar as magoas
em imagens fotográficas. Na escuridão da noite as luzes do meu ser se inundam
de maldições, querendo sempre mais escrever e criar, talvez seja fruto de um
pacto sombrio com os miseráveis sentimentos que ora afogam minhas virtudes
fracas, trazendo de ímpeto letras e mais letras. Por isso penso que poesia não
se faz de alegria, é ritmo de dor, é sofrer o amor que nunca viu correspondido,
e chorar sozinho e destruir-se por dentro, quando por fora a pele sofre de
fraqueza por mentir a felicidade. Aquele que mais sofre, mais razão tem de transpor de dentro das mazelas
da alma as dores da vida. Por hoje sofro calado, no quarto escuro da alma,
alimento a tristeza que martela as
virtudes que construíram-se de frágeis cristais.
Faça-se
Um
Nas estações da vida,
Tudo passa sem sentir
O caos é habitante,
Da parada do porvir
Nada vem, nada vai
Nada se sente,
Tudo se homogeneiza.
Nada se sente,
Tudo se homogeneiza.
Index Librorum Prohibitorum
Brigas que
incessantes
Dogmas as leis intervém
Todos tolos pedantes
Que viveram em desdém
Dogmas as leis intervém
Todos tolos pedantes
Que viveram em desdém
Ridículos
antiquados seres
Não nos deixam respirar
Lembrados a dozes meses
Não venham com essa pra cá!
Não nos deixam respirar
Lembrados a dozes meses
Não venham com essa pra cá!
Uma lista
ingênua contém
Racistas e hipócritas são
Fazem dos outros vintém
Não valem alguma atenção
O livro de sangue seguem
Mais do que a própria razão
A tudo e todos medem
Criaturas sem coração
A todos atrasaram milênios
Inúteis e vagas proibições
Inibindo raros gênios
Velhacos e malandrões.
Racistas e hipócritas são
Fazem dos outros vintém
Não valem alguma atenção
O livro de sangue seguem
Mais do que a própria razão
A tudo e todos medem
Criaturas sem coração
A todos atrasaram milênios
Inúteis e vagas proibições
Inibindo raros gênios
Velhacos e malandrões.
Cavaleiro
da Cana
O sol que ilumina, que dá vida,
Também a tira a poucos,
Homem exprimido,
Como bicho moído
Vestido á caráter para,
Dançar entre as canas,
Afiadas como faca
Homem medieval,
Que bate, corta com destreza
Mas nada pensa e diz
Com clareza
Memórias da Infância em
Salvador
Com todas as forças a
alegria reina em mim, hoje o vento trás apenas lembranças agradáveis de minha
infância feliz em Salvador, quando ia ao centro da cidade ver os mestres das
vilas jogarem capoeira, simples assim como uma valsa, mas acompanhados de alma pelos
orixás, dando-lhes proteção e inspiração para contorcerem-se por inteiro em uma
dança magica, que um dia trouxe-lhes a esperança às senzalas. As mulheres com
saiotes brancos giravam e giravam na roda, alegres da vida, sem demonstrar as
dores que traziam de suas casas, pareciam noivas galantes, e quando estavam a
rodopiar as esperanças se renovavam e os sonhos de uma vida mais digna traziam à
dança um sentido dramático que sempre souberam os miseráveis, e eu cresci neste
meio alegre de ser gente que não carrega nada senão histórias tristes
alimentadas pelo desespero, mas longe disse o povo Baiano escapou as angústias
da vida com festas, rodas, fofocas e tudo o que a Bahia tem de melhor, gente
que canta a pobreza da vida com cultura digna de vanguarda, talvez um dia
reconheçam as músicas baianas que fizeram desse lugar de transformações rudes
um lugar ameno e contente da vida pobre que tive.