quinta-feira, 30 de maio de 2013

A LUTA DE JOSEPHAT

Em dezembro, noticiei sobre o documentário InThe Shadow of the Sun, que tem Josephat Torner como protagonista. Josephat é proeminente ativista da causa albina na Tanzânia. A CNN trouxe matéria sobre o moço, a qual traduzi.
Josephat Torner is an albino activist from Tanzania. His fight for equality and acceptance of people with his condition has been captured in a new documentary called "In the Shadow of the Sun."
“Somos mortos, somos caçados”: ativista albino luta contra assassinatos para bruxaria.
Earl Nurse
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)

Evitando cuidadosamente rochas escorregadias, Josephat Torner vagarosamente adentra uma formação de cavernas escuras no noroeste da Tanzânia.
A sua frente, mostrando o caminho com ar de autoconfiança, caminha um feiticeiro local. Auxiliados por luzes artificiais, as 2 figuras aventuram-se nas profundezas da escuridão, apoiando-se nas paredes da caverna para se orientarem. Com morcegos esvoaçando sobre suas cabeças, os homens penetram uma vasta câmara, onde se destacam um punhado de pedras.
“O que quero saber é se você já viu alguém rezando para alguma entidade do mal aqui, para que possam capturar alguém, tipo um albino”, Torner indaga ao curandeiro.
Ele mesmo uma pessoa com albinismo, Torner tem percorrido a Tanzânia para desbancar ideias errôneas pré-concebidas a respeito da condição genética. Dúzias de albinos foram mutilados e mortos no país em anos recentes, devido a rumores de que as partes de seus corpos podem trazer riqueza e boa sorte.
Para pôr um fim às atrocidades, Torner pensou que deveria confrontar o grupo que ele acreditava ser a fonte dessas crenças: os feiticeiros.
Foi isso que o trouxe às profundezas da caverna, face a face com seu “inimigo”.
“Chamamos vocês de espíritos, porque uma pessoa branca como você é o diabo”, prontamente admite o curandeiro.
“Você está dizendo que sou um demônio branco”, rebate Torner, “que somos capetas?”
A resposta: “Sim, porque vocês são brancos.”
In recent years, there has been an increase in Tanzania in the deaths of albinos. At the heart of the problem, are widespread misconceptions that albinos' body parts bring good luck and wealth.
 À Sombra
Esse enfrentamento dramático é um dos mais intensos momentos capturados em um novo documentário chamado In the Shadow of the Sun.
A produção independente, dirigida por Harry Freeland, conta a história de vida de Torner e sua luta pela aceitação dos albinos em um país onde há muito pouca informação sobre a desordem genética.
“Meu coração anseia pelo reconhecimento das pessoas com albinismo no mundo”, diz Torner, que tem lutado pelos albinos desde 2004. “Temos que ser considerados.”
Torner e Freeland demoraram 6 anos para completar o documentário. A inspiração do diretor veio há quase uma década, quando ele encontrou pela primeira vez uma pessoa com albinismo, no Senegal.
“Uma mulher aproximou-se de mim na rua, querendo me entregar seu filho enquanto me dizia: ‘aqui, tome, leve-o de volta parra onde ele veio’”, recorda Freeland. “Ela tinha um filho com albinismo e porque sou branco, achou que a criança pertencia a mim de algum modo – o marido a abandonara por ter concebido um bebê branco. Ele a acusou de haver dormido com um branco.”
Torner and director Harry Freeland spent six years creating "In the Shadow of the Sun." While making the film, Freeland traveled all across Tanzania with Torner to follow the activist's community outreach program.
Protagonista
Pessoas com albinismo nascem com genes que não produzem quantidades normais do pigmento melanina. Os nascidos com a desordem, que afeta pessoas de qualquer etnia, herdas os genes de seus pais, que podem ou não apresentar quaisquer dos traços associados.     
Mas, muitas pessoas não entendem os efeitos da condição e, como descobriu Freeland, em partes da África albinos são estigmatizados e convivem com preconceito e até mesmo ataques.
Disposto a documentar o sofrimento desse grupo, Freeland
Foi à Tanzânia, país com uma das mais elevadas taxas de pessoas com albinismo. Lá, ele se deparou com histórias extraordinárias, mas não encontrou seu protagonista até conhecer Torner.
“Quando o ouvi falar, soube que era a pessoa para protagonizar o filme”, relata Freeland. Tantas histórias negativas saem da África, e tudo a respeito de Josephat é positivo."
Apesar de crescer com uma desordem que deixou sua pele e cabelo pálidos e enfraqueceu seus olhos, Torner conseguiu tirar o melhor de sua situação. Ele superou dificuldades e discriminação e se educou e casou. Pai de 2, Torner chegou a escalar a montanha mais alta da África, o  Kilimanjaro, para provar que albinos podem alcançar a grandeza.
“Foi muito difícil escalar”, admite. “Escalei porque tinha um objetivo. Somos mortos, caçados, mutilados. Então, a escalada teve uma mensagem especial para os países africanos: de que somos capazes. Para que nos protejam, nos deem uma chance, não nos estigmatizem, não nos isolem, não nos escondam num quarto escuro – abram o caminho para nós.”
Born with albinism, Torner has a lack of skin color, poor vision and weakened strength. But he doesn't let any of that stop him from reaching his goals. In an effort to prove that albinos can achieve greatness, he climbed Kilimanjaro, Africa's tallest mountain.
“Por que Estão nos Matando?”
Em 2009, o governo tanzaniano embarcou em campanha contra os assassinos de albinos, particularmente na região do Lago Vitória. Freeland diz que no centro do problema estão os curandeiros, que propagam a ideia de que partes de corpos de albinos podem trazer riqueza.
“Na Tanzânia, 72 pessoas com albinismo foram mortas nos últimos 5 anos”, diz Freeland, ressaltando que o número real pode ser maior. “34 sobreviventes dos ataques ficaram mutilados.” Algumas das vítimas eram conhecidas de Torner.
“Fiquei furioso” diz o ativista, lembrando os momentos seguintes ao confronto com o feiticeiro.
“Ele me respondeu na lata, sem sequer tentar esconder as coisas. Claro que fiquei com raiva; lembrei-me dos irmãos e irmãs que perdi. Jamais os verei novamente”, acrescenta. “Então, você se pergunta qual é o problema, por que estão nos matando, nos caçando.”
Torner sabe que jamais poderá obter resposta satisfatória para essas questões. Isso, porém, não o impede de fazer tudo a seu alcance para atrair atenção a sua mensagem de criar uma sociedade mais inclusiva.
Ele espera que seu trabalho comunitário e o documentário focado em seus esforços, somados aos esforços de organizações e do governo, tornem a Tanzânia um local onde as pessoas com albinismo não sejam forçadas e viverem nas sombras.
“O sonho de minha vida é que as pessoas com albinismo sejam respeitadas e desfrutem de todos os direitos que os demais seres humanos gozam. Isso é o que enche meu coração de esperança – quando eu vir justiça para as pessoas albinas, quando sua expectativa de vida aumentar”, conclui.
Torner has overcome several challenges to make the best of his situation. He received an education, got married (pictured here with his wife) and now has two children.
http://edition.cnn.com/2013/05/17/world/africa/josephat-torner-albinism-tanzania

Nenhum comentário:

Postar um comentário