sexta-feira, 31 de maio de 2013

PAPIRO VIRTUAL 56

A seção de literatura traz amostra do trabalho do jovem Gabriel Jodas, graduando em Letras, da cidade de Birigui (SP). Esse quesito facilitou sua entrada no mundo poético. Ao longo do ano passado, Gabriel pôde alimentar seu espírito com obras de Azevedo, Drummond, Pessoa, Byron, dentre outros cânones literários. Com isso, a inspiração poética adentrou-o com garras e sem ímpeto de misericórdia, gerando em lágrimas ociosas longas folhas regradas de sarcasmo, erotismo e melancolia.

Alegria não Constrói Poesia
Escrevo linhas de agonia, a alma enche-se de rancor e ódio e assim as folhas se completam desesperadamente tentando afogar as magoas em imagens fotográficas. Na escuridão da noite as luzes do meu ser se inundam de maldições, querendo sempre mais escrever e criar, talvez seja fruto de um pacto sombrio com os miseráveis sentimentos que ora afogam minhas virtudes fracas, trazendo de ímpeto letras e mais letras. Por isso penso que poesia não se faz de alegria, é ritmo de dor, é sofrer o amor que nunca viu correspondido, e chorar sozinho e destruir-se por dentro, quando por fora a pele sofre de fraqueza por mentir a felicidade. Aquele que mais sofre,  mais razão tem de transpor de dentro das mazelas da alma as dores da vida. Por hoje sofro calado, no quarto escuro da alma, alimento a tristeza  que martela as virtudes que construíram-se de frágeis cristais.
Faça-se Um

Nas estações da vida,
Tudo passa sem sentir
O caos é habitante,
Da parada do porvir
Nada vem, nada vai
Nada se sente,
Tudo se homogeneiza.
Index Librorum Prohibitorum
Brigas que incessantes
Dogmas as leis intervém
Todos tolos pedantes
Que viveram em desdém
Ridículos antiquados seres
Não nos deixam respirar
Lembrados a dozes meses
Não venham com essa pra cá!
Uma lista ingênua contém
Racistas e hipócritas são
Fazem dos outros vintém
Não valem alguma atenção

O livro de sangue seguem
Mais do que a própria razão
A tudo e todos medem
Criaturas sem coração

A todos atrasaram milênios
Inúteis e vagas proibições
Inibindo raros gênios
Velhacos e malandrões.

Cavaleiro da Cana
O sol que ilumina, que dá vida,
Também a tira a poucos,
Homem exprimido,
Como bicho moído

Vestido á caráter para,
Dançar entre as canas,
Afiadas como faca
 
Homem medieval,
Que bate, corta com destreza
Mas nada pensa e diz
Com clareza
Memórias da Infância em Salvador
Com todas as forças a alegria reina em mim, hoje o vento trás apenas lembranças agradáveis de minha infância feliz em Salvador, quando ia ao centro da cidade ver os mestres das vilas jogarem capoeira, simples assim como uma valsa, mas acompanhados de alma pelos orixás, dando-lhes proteção e inspiração para contorcerem-se por inteiro em uma dança magica, que um dia trouxe-lhes a esperança às senzalas. As mulheres com saiotes brancos giravam e giravam na roda, alegres da vida, sem demonstrar as dores que traziam de suas casas, pareciam noivas galantes, e quando estavam a rodopiar as esperanças se renovavam e os sonhos de uma vida mais digna traziam à dança um sentido dramático que sempre souberam os miseráveis, e eu cresci neste meio alegre de ser gente que não carrega nada senão histórias tristes alimentadas pelo desespero, mas longe disse o povo Baiano escapou as angústias da vida com festas, rodas, fofocas e tudo o que a Bahia tem de melhor, gente que canta a pobreza da vida com cultura digna de vanguarda, talvez um dia reconheçam as músicas baianas que fizeram desse lugar de transformações rudes um lugar ameno e contente da vida pobre que tive.

Um comentário:

  1. Parabéns Gabriel Joda! Olha, cada vez mais orgulhosa de você, por sua destreza com as palavras e por ser da minha região, também lhe desejo muito sucesso na sua vida acadêmica e literária. Um abraço imenso! Cléris Nogueira (Tupã-SP)

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