Roberto Rillo Bíscaro
Uma das lembranças das tardes dominicais, lá pelos meus
10,11 anos, são seres metálicos com voz computadorizada, os Silônios. Eles eram
inimigos dos terráqueos na série de ficção-cientifica - quase cópia-carbono de
Guerra nas Estrelas – Battlestar Galactica (1978). A ABC tirou-a do ar ao fim
da primeira temporada, alegando baixa audiência e alto custo de produção,
embora diversos minutos de cada episódio pudessem ser constituídos de imagens
de arquivo: as cenas de batalha e decolagem são quase sempre idênticas. Vi as 2
dúzias de episódios.
A premissa é que a Terra foi colonizada por humanos.
Findo o trabalho, voltaram pras 12 colônias originais (por que, se nossa esfera
é habitável?), todas com nomes zodíacosos, tipo Caprica. Nossos pais-fundadores
tinham inimigo poderoso: sáurios tecnologizados a ponto de se tornarem máquinas,
os Silônios, com voz de vocoder do Kraftwerk.
Após muita hostilidade, os robôs propõem um acordo de paz, aceito pelo conselho
das 12 Colônias. Na noite da assinatura do tratado, os Silônios atacam de
surpresa, provocando um holocausto. Exceto por uma nave de combate (a
Galactica) e 2 centenas de naves civis, a extinção é total. Em comboio,
lideradas pelo Comandante Adama (papai Ben Cartwright, de Bonanza), esse resto
de humanoides dirige-se à Terra Prometida em suas escrituras; adivinha qual
planeta? Em um universo onde o inglês È o idioma, Starbuck, Apolo, Athena &
Cia, enfrentarão a perseguição silônia, pelo menos em parte da série.
As reverberações bíblicas são óbvias não apenas com
relação à busca da Terra Prometida, mas a menção das 12 colônias originais,
releitura das 12 Tribos de Israel. Battlestar Galactica é Escola Dominical
disfarçada de ficção científica.
Duma época em que não era crime inafiançável o mocinho
fumar charuto em frente às câmeras, a série era cara pros padrões televisivos
de fins dos anos 1970, embora os efeitos especiais e adereços pareçam
pré-históricos hoje. Engraçado como não se pensava em colocar telefones nos
bolsos nas sci fi antigas, fazendo
com que nosso século pareça em partes muito mais moderno do que o futuro
distante da Galactica. As telas de computador, tipo DOS, são de rir.
Dá pra descontar o ritmo mais lento de quase 3,5
décadas atrás. O que não dá é a guerra contra os silônios ser descartada no
meio da temporada e diversos episódios atirarem pra outras direções, como drama
(seria X o pai de Y?) ou resolução de crime. Mais pro fim, uns 3 shows lidam com uma tal de Aliança
Oriental, claro ataque aos países da Cortina de Ferro, em época de Guerra Fria.
Os silônios voltam apenas no último (ou penúltimo) episódio. Se essa indecisão
selou a perda de audiência ou se foi resultado dela, não sei, mas esse desnível
tira muito da graça de Battlestar Galactica, que acaba sendo mais indicada pra
saudosistas.
Gostoso reconhecer atores
convidados. Audrey Landers, a Afton Cooper, de DALLAS; Lloyd Buchner (ele
estava em todos os seriados 70’s e 80’s?), o Cecil Colby, de Dynasty; Roy
Thinnes, o David Vincent, d’Os Invasores, que indico mais do que Battlestar
Galactica, aos mais jovens.
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