Roberto Rillo Bíscaro
A ABC vive grande momento com suas séries. Exibe a impagavelmente inteligente Modern Family, o irresistível novelão Revenge e o tenso thriller político Scandal, cujas 2 temporadas devorei com ardor.
Nessa época em que até as telenovelas brasileiras se veem obrigadas a incorporar elementos de séries pra segurar público é que constatamos que as séries já absorveram traços noveleiros faz tempo. Scandal não se furta às reviravoltas de trama, às coincidências improváveis, à circularidade na (re)aparição de personagens tão características das soaps.
A história centra-se em Olivia Pope, ex-coordenadora de campanha do vitorioso presidente Fitzgerald Grant. Depois de abandonar a equipe presidencial subitamente, Pope arregimenta um grupo, os Gladiadores, pra consertar imagens e deslizes de figurões ricos o bastante pra pagarem pelos seus excelentes serviços de preço inflacionado. Nesse sentido, Scandal deveria lançar muitas dúvidas sobre o que vemos nos noticiários. Os Gladiadores inventam tantos perfis e encobrem tanto lixo que ficaria difícil crer em qualquer discurso oficial. Talvez por ser tão febrilmente improvável às vezes é que muitos de seus telespectadores sigam acreditando no que veem/ouvem.
Nos primeiros episódios, diferentes clientes têm seus problemas resolvidos e sua sujeira varrida pra debaixo de felpudos tapetes pelos Gladiadores. Aos poucos, porém, conhecemos segredos, inter-relações e antecedentes de todas as personagens e uma eletrizante história de intriga política se desenha e toma a dianteira. Um terrível segredo de campanha e uma história de amor proibido (hello, soap opera!) jogam as personagens num frenesi conflitivo.
A velocidade da ação/edição é supersônica e o texto gigantesco, então as personagens têm que metralhar diálogos e monólogos. O elenco é brilhante e dá pra perceber como os roteiristas cortam suculentos filés verbais pra eles regurgitarem pro público à medida que atores e personagens mostram seu calibre.
Meus favoritos são Cyrus, chefe da casa civil (ou algo assim) e a Primeira Dama, Mellie Grant (chiquérrima!). Torço por eles incondicionalmente, mas quando Cyrus e Mellie se estranham, minha preferência é dele; por isso mencionei-o primeiro.
Será que um governo Republicano teria um chefe de gabinete abertamente gay? E como James, o marido de Cyrus é idiota, com aquele lenga lenga de “quero um bebê, quero um bebê”! Amei quando Mellie o manipulou!
Scandal não discute o preconceito contra gays ou afrodescendentes. Olivia Pope é negra. É como se todos aceitassem sem problema essas diferenças da heteronormatividade branca. Esse apagamento tem sido elogiado, mas tenho reservas. O fato de a imprensa ter que destacar/louvar a negritude duma protagonista é indício de que não vivemos numa igualdade racial. Quantas vezes você se deparou com a afirmação de que um protagonista era branco ou heterossexual? Se isso não precisa acontecer é porque de certo modo consideramos isso a norma.
Deixo essas questões pra analistas acadêmicos, porém. Não vejo a hora da terceira temporada, em setembro (que também trará Revenge!)
Escandalosamente bom.
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