Roberto Rillo Bíscaro
Ficamos em aguda ansiedade nos finais de temporada de
nossas séries favoritas. Antigamente, essa sensação era experimentada pelo
público de cine, afoito pra saber como seus heróis se livrariam dos apuros nas serials, divididas em capítulos,
exibidos antes do longa-metragem.
Até hoje utiliza-se o termo cliffhanger pro gancho final que manterá o telespectador preso à
série na temporada seguinte. A palavra vem das serials, cujos finais sempre encontravam os protagonistas em
situação de risco de morte, prestes a explodirem com algum meio de transporte
ou pendurados em um abismo (daí a expressão cliffhanger).
A resolução era sempre desonesta com o espectador: a cena do clímax era
repetida e uma tomada que não aparecera no episódio anterior inserida: o
sujeito pulara da lancha pouco antes de ela se espatifar contra a falésia ou a
mocinha se agarrara a um galho antes de rolar ribanceira abaixo. Depois de um
par de cliffhangers, a gente se
acostuma à convenção, que não funciona mais para nossa sensibilidade atual.
Existem ainda, porém, admiradores desse formato, como
eu. Vi diversas completas, como Flash Gordon, de 1936 e uma divertidíssima com
Bela Lugosi, The Phantom Creeps (1939), onde um cientista maluco tenta detonar
o planeta com toda sorte de robôs e bugigangas científicas.
As serials normalmente
contavam dúzia de episódios, mas versões condensadas eram editadas e lançadas
como longas-metragens. Foi nesse formato que vi a versão colorizada de Zombies
of the Stratosphere (1952), na qual marcianos planejam destruir a Terra pra
colocar Marte em sua posição orbital e aproveitar o calor do sol. O planeta vermelho
– cuja cor associada à da União Soviética tornou-o metáfora sci fi pro perigo comunista da Guerra
Fria – esfriava e seus habitantes precisavam dum lugar mais cálido caso não quisessem
se extinguir. H G Wells usara a mesma motivação pra invasão marciana da Guerra
dos Mundos (leia minha resenha aqui).
Um policial com máscara engraçada e roupa equipada pra
voar luta contra os alienígenas. Lanchas, trens, carros, aviões, dirigíveis, submarinos,
tudo serve pra propiciar perseguições e cliffhangers,
nessa produção indisfarçavelmente barata, por isso, muito charmosa. O
aproveitamento de cenas era típico das serials
e mesmo no reduzido tempo de Zombies of the Stratosphere, dá pra perceber o
truque.
Espremer 12 capítulos em 90 minutos deixa a sensação de
que muitas cenas não têm motivação ou fundamento e fica aquele gostinho de que
muitas pérolas foram perdidas. Mas, o essencial duma serial está lá e talvez seja bom aperitivo pra não iniciados,
assistir a essa mistura de ficção científica, policial e até cenas de western!
O zumbis do título nada tem a ver com comedores de cérebros.
Esse conceito só passou a ser possível depois do fundamental A Noite dos Mortos
Vivos, de George Romero.
Curiosidade pros fãs de Jornada nas Estrelas: Leonard
Ninoy – o orelhudo Dr. Spock – faz um marciano, pintado de verde e tudo!
Não consigo achar o vídeo
completo no You Tube, mas foi de lá que baixei. Tenho certeza, porém, de que
você consegue em algum rincão internético.
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