quinta-feira, 27 de junho de 2013

TELONA QUENTE 73

Roberto Rillo Bíscaro


Ficamos em aguda ansiedade nos finais de temporada de nossas séries favoritas. Antigamente, essa sensação era experimentada pelo público de cine, afoito pra saber como seus heróis se livrariam dos apuros nas serials, divididas em capítulos, exibidos antes do longa-metragem.

Até hoje utiliza-se o termo cliffhanger pro gancho final que manterá o telespectador preso à série na temporada seguinte. A palavra vem das serials, cujos finais sempre encontravam os protagonistas em situação de risco de morte, prestes a explodirem com algum meio de transporte ou pendurados em um abismo (daí a expressão cliffhanger). A resolução era sempre desonesta com o espectador: a cena do clímax era repetida e uma tomada que não aparecera no episódio anterior inserida: o sujeito pulara da lancha pouco antes de ela se espatifar contra a falésia ou a mocinha se agarrara a um galho antes de rolar ribanceira abaixo. Depois de um par de cliffhangers, a gente se acostuma à convenção, que não funciona mais para nossa sensibilidade atual.
Existem ainda, porém, admiradores desse formato, como eu. Vi diversas completas, como Flash Gordon, de 1936 e uma divertidíssima com Bela Lugosi, The Phantom Creeps (1939), onde um cientista maluco tenta detonar o planeta com toda sorte de robôs e bugigangas científicas.  
As serials normalmente contavam dúzia de episódios, mas versões condensadas eram editadas e lançadas como longas-metragens. Foi nesse formato que vi a versão colorizada de Zombies of the Stratosphere (1952), na qual marcianos planejam destruir a Terra pra colocar Marte em sua posição orbital e aproveitar o calor do sol. O planeta vermelho – cuja cor associada à da União Soviética tornou-o metáfora sci fi pro perigo comunista da Guerra Fria – esfriava e seus habitantes precisavam dum lugar mais cálido caso não quisessem se extinguir. H G Wells usara a mesma motivação pra invasão marciana da Guerra dos Mundos (leia minha resenha aqui).
Um policial com máscara engraçada e roupa equipada pra voar luta contra os alienígenas. Lanchas, trens, carros, aviões, dirigíveis, submarinos, tudo serve pra propiciar perseguições e cliffhangers, nessa produção indisfarçavelmente barata, por isso, muito charmosa. O aproveitamento de cenas era típico das serials e mesmo no reduzido tempo de Zombies of the Stratosphere, dá pra perceber o truque.
Espremer 12 capítulos em 90 minutos deixa a sensação de que muitas cenas não têm motivação ou fundamento e fica aquele gostinho de que muitas pérolas foram perdidas. Mas, o essencial duma serial está lá e talvez seja bom aperitivo pra não iniciados, assistir a essa mistura de ficção científica, policial e até cenas de western!
O zumbis do título nada tem a ver com comedores de cérebros. Esse conceito só passou a ser possível depois do fundamental A Noite dos Mortos Vivos, de George Romero.
Curiosidade pros fãs de Jornada nas Estrelas: Leonard Ninoy – o orelhudo Dr. Spock – faz um marciano, pintado de verde e tudo!
Não consigo achar o vídeo completo no You Tube, mas foi de lá que baixei. Tenho certeza, porém, de que você consegue em algum rincão internético.

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