terça-feira, 6 de agosto de 2013

TELINHA QUENTE 85


Roberto Rillo Bíscaro

Em 2005, a série israelense BeTipul, centrada no consultório dum psicoterapeuta e alguns de seus pacientes durante a semana estourou e vem sendo adaptada em países tão diferentes como Japão, Sérvia e Argentina. Escrevi sobre as 3 temporadas de In Treatment, versão norte-americana. Acabo de ver a temporada um da edição brasileira, exibida ano passado pela paga GNT.
As histórias das personagens são as mesmas, realocadas pras especificidades locais. O paciente ianque das terças era piloto da aeronáutica que cometera erro fatal numa operação no Iraque. No Brasil, Breno (Sérgio Guizé, ótimo) é atirador de elite da polícia civil paulista que acidentalmente mata uma criança numa operação na favela de Heliópolis. Cada consulta custa 350 paus; ganha bem esse policial!
Téo, o psicólogo, vive crise de fé durante as 9 semanas em que se desenrola a história. Apaixonado por uma paciente e com o casamento em frangalhos, o terapeuta – impressão minha ou ele se veste como o estereótipo de padre? – questiona os fundamentos da psicologia.
Sessão de Terapia desmistifica a noção de que terapeutas não tenham neuras, sejam controlados, tenham todas as respostas e soluções pra suas vidas e nutram relacionamentos saudáveis com seu círculo mais chegado. Ainda que assuste alçar a psicologia como religião com dogmas e crises de culpa por eventual quebra duma espécie de celibato necessário pela potencial manipulação que pode virar uma terapia, podemos empatizar com as dúvidas e desejos de Téo (Deus...). No fim, vence a religião, digo a ética profissional, mas o mundo “Téocêntrico” jamais poderá ser como dantes.
As histórias de todos os pacientes e da supervisora de Téo funcionam como espelhos de diversas facetas de sua própria história e personalidade, embora retenham seu interesse, independência e força próprias. Às vezes, as explicações estão óbvias e fáceis demais e quando começa a musiquinha, ouvimos as chaves do mistério tilintadas ao espectador.
Outrossim Sessão de Terapia é fascinante e (in)tensa; prenhe de longos diálogos fortes que levam ao choro pacientes e telespectadores. E terapeutas.
Série assim precisa de atores competentes, porque o foco é nas emoções/atuações. Dirigido por Selton Mello, o elenco de Sessão de Terapia dá banho de interpretações estelares.
O centro da catarse é Téo, vivido à perfeição pelo teatral Zécarlos Machado. Olhares, sentares e mexeres na poltrona; o ator usa tudo pra mostrar desconforto, aprovação, dúvida; um luxo. Dá até dor na consciência não citar cada ator/atriz, mas não tenho tempo/espaço. Como deixar de saudar a jovem Bianca Muller, porém? Interpretar a conflituosa Nina não é pra qualquer jovem atriz e Bianca arrasou.
Nem adianta vir com o severo complexo de inferioridade nacional dizendo que a fórmula já estava pronta, os diálogos foram “apenas traduzidos”, mimimimimi. Se a produção, direção e elenco não fossem afiados, Sessão de Terapia teria sido brochante. Mas é excitante!

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