Roberto Rillo Bíscaro
Em 2005, a série israelense BeTipul, centrada no
consultório dum psicoterapeuta e alguns de seus pacientes durante a semana
estourou e vem sendo adaptada em países tão diferentes como Japão, Sérvia e
Argentina. Escrevi sobre as 3 temporadas de In Treatment, versão
norte-americana. Acabo de ver a temporada um da edição brasileira, exibida ano
passado pela paga GNT.
As histórias das personagens são as mesmas, realocadas
pras especificidades locais. O paciente ianque das terças era piloto da
aeronáutica que cometera erro fatal numa operação no Iraque. No Brasil, Breno (Sérgio
Guizé, ótimo) é atirador de elite da polícia civil paulista que acidentalmente mata
uma criança numa operação na favela de Heliópolis. Cada consulta custa 350
paus; ganha bem esse policial!
Téo, o psicólogo, vive crise de fé durante as 9 semanas
em que se desenrola a história. Apaixonado por uma paciente e com o casamento
em frangalhos, o terapeuta – impressão minha ou ele se veste como o estereótipo
de padre? – questiona os fundamentos da psicologia.
Sessão de Terapia desmistifica a noção de que terapeutas
não tenham neuras, sejam controlados, tenham todas as respostas e soluções pra
suas vidas e nutram relacionamentos saudáveis com seu círculo mais chegado. Ainda
que assuste alçar a psicologia como religião com dogmas e crises de culpa por
eventual quebra duma espécie de celibato necessário pela potencial manipulação
que pode virar uma terapia, podemos empatizar com as dúvidas e desejos de Téo
(Deus...). No fim, vence a religião, digo a ética profissional, mas o mundo
“Téocêntrico” jamais poderá ser como dantes.
As histórias de todos os pacientes e da supervisora de
Téo funcionam como espelhos de diversas facetas de sua própria história e
personalidade, embora retenham seu interesse, independência e força próprias. Às
vezes, as explicações estão óbvias e fáceis demais e quando começa a
musiquinha, ouvimos as chaves do mistério tilintadas ao espectador.
Outrossim Sessão de Terapia é fascinante e (in)tensa;
prenhe de longos diálogos fortes que levam ao choro pacientes e
telespectadores. E terapeutas.
Série assim precisa de atores competentes, porque o
foco é nas emoções/atuações. Dirigido por Selton Mello, o elenco de Sessão de
Terapia dá banho de interpretações estelares.
O centro da catarse é Téo, vivido à perfeição pelo
teatral Zécarlos Machado. Olhares, sentares e mexeres na poltrona; o ator usa
tudo pra mostrar desconforto, aprovação, dúvida; um luxo. Dá até dor na
consciência não citar cada ator/atriz, mas não tenho tempo/espaço. Como deixar
de saudar a jovem Bianca Muller, porém? Interpretar a conflituosa Nina não é
pra qualquer jovem atriz e Bianca arrasou.
Nem adianta vir com o severo complexo de inferioridade
nacional dizendo que a fórmula já estava pronta, os diálogos foram “apenas
traduzidos”, mimimimimi. Se a produção, direção e elenco não fossem afiados,
Sessão de Terapia teria sido brochante. Mas é excitante!
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