Roberto Rillo Bíscaro
Long Day’s Journey Into Night é tida por muitos como a
obra-prima do norte-americano Eugene O’Neill. O conteúdo autobiográfico é
hiper-ressaltado até mesmo pra aguar o teor mais explicitamente politizado
de suas peças primeiras, informadas pelo Expressionismo. Quando é possível
despolitizar a arte, há uma legião que não perde a chance.
Long Day’s... é o Naturalismo de Ibsen e Strindberg
(leia sobre 2 de suas peças aqui), da virada do século XIX pro XX, amplificado
em gritaria ainda mais estridente. Escrita em princípios dos 40’s, a peça foi
publicada postumamente no decênio seguinte. Marx, Freud ou Kardec diriam não
ser coincidência a estreia mundial da Longa Jornada Noite Adentro ter sido na
strindbergiana Estocolmo, vizinha da ibseniana Noruega.
Trata-se duma family
play típica na sala-de-estar transformada em lavanderia; haja alvejante pra
tanta roupa suja!
Os 4 Tyrones estão isolados em uma casa no meio da
névoa e às escuras devido à sovinice do pai. A falta de clareza repercute suas
vidas destruídas pelo convívio familiar, mas muito mais pelas condições
sócio-históricas. O conteúdo autobiográfico é importante; O’Neill declarou ser
um acerto de contas com seu próprio sangue. Mas, a avareza e o desperdício duma
carreira séria no teatro em troca de uma de ídolo de matinê com peça de consumo
fácil estão enraizadas no terror pela miséria, incutido em James Tyrone desde
sua faminta infância irlandesa. Conflitos dessa natureza não são resolvíveis e
é esse precisamente o material dramatúrgico “escondido” de Long Day’s Journey
Into Night.
Durante o dia regado a álcool e morfina, o casal Tyrone
e seus 2 filhos perdedores se agridem, tentam ajustar contas inajustáveis, recriam/idealizam
seus passados numa experiência cênica poderosa. Passei um pouco da fase de
curtir tanta histeria e hoje até me parece algo pretensioso, mas não nego a
importância do psicologismo de O’Neill pro teatro, cinema e TV da segunda metade
do século passado.
Vi a adaptação televisiva, de 1987, baseada na teatral,
muito badalada na Broadway no ano anterior. Lembro-me de ler nos suplementos
culturais e morrer de vontade de ir à Nova York ver meu Jack Lemmon em cena.
Pude vê-lo no You Tube e alguns maneirismos vocais
enjoaram. Grande, mas não acrescentou ao que eu já conhecia dele (não é pouco,
garanto). Peter Galagher e Kevin Spacey (de volta à TV com a elogiada House of
Cards, próxima na minha lista de temporadas a assistir) estão sólidos como os
filhos.
Long Jornada Noite Adentro tem um filé pruma grande
atriz. Interpretar a morfinada mamãe Tyrone não é pra qualquer uma. Katherine
Hepburn continua favorita, na adaptação sessentista, dirigida por Sidney Lumet.
Mas Bethel Leslie não faz nada feio nessa versão oitentista. Aproveitem, pois
dificilmente lerão algo semelhante: vale ver mais por ela do que por meu Jack,
embora ele apareça na frente de todos em toda a divulgação. Hollywood tem
poder!
Quase 3 horas de inglês sem
legenda com texto e clima densos, que valem a pena pra quem quer uma volta de
montanha-russa emocional.
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