Roberto Rillo Bíscaro
Quando o mercado fonográfico ianque – e em certo sentido, planetário - transferiu seu centro de Nova York a Los Angeles (leia aqui), esse foi apenas mais um golpe pra apodrecer a Grande Maçã. A crise política e petroleira dos anos 70 faliu a cidade, fedida por greves de lixeiros ou escurecida por apagões. Woody Allen caracteristicamente não sentia isso, mas em alguns bairros a coisa era literalmente punk.
Semana passada escrevi sobre documentário da BBC que
narra o nascimento da disco music. Hoje, resenho Once
Upon a Time in New York: the Birth of Hip Hop, Disco and Punk (2011), da
mesma emissora. Os 60 minutos do programa explicam como
esses movimentos seminais nasceram em meio ao - e parte em consequência do -
caos urbano.
Codificado como movimento
estético e moda na pindaíba inglesa setentista, o punk teve suas raízes no lado selvagem da geração sessentista
nova-iorquina, que não queria ou podia compartilhar os sonhos ensolarados de
paz e amor hippies. O Velvet
Underground, do recém-falecido Lou Reed, e depois os bofes travestidos do New
York Dolls (ídolos de Morrissey, dos Smiths) abriram caminhos alternativos e
distorcidos pruma geração – predominantemente branca – que vinha à Nova York e
congregava-se no CBGB, lendário clube que reunia artistas tão distintos quanto
Patti Smith, Television, Blondie, Ramones e Talking Heads.
Se a situação não estava fácil pros brancos, imagine
bairros como o negro Bronx, infestado de gangues e assombrado por taxas
alarmantes de desemprego. Excluídos do elitista Studio 54 – até a então em
baixa Cher foi barrada! -, a solução pra dançar e se divertir era instalar o
som na rua e promover festas, que apaziguavam grupos rivais, incorporavam
outras sub-culturas como a dos grafiteiros e experimentavam novas combinações e
possibilidades sônicas. Manos como Afrika Bambataa misturavam faixas de
diferentes estilos – funk, africanos, caribenhos, Kraftwerk (claro!) – em suas
mesas de discotecagem e compunham letras críticas, mais faladas do que cantadas.
O que o
documentário não tem tempo ou interesse em abordar é a homofobia/misoginia de
boa parte da comunidade afro-descendente, indisposta a frequentar as festas disco.
De qualquer modo, esse
outro grupo de insatisfeitos culturais, criou o hip hop, que sairia do gueto pra se constituir no gênero musical
dominante no mercado por décadas.
Once
Upon a Time in New York: the Birth of Hip Hop, Disco and Punk
põe em perspectiva o papel fundamental da Nova Roma, que perdeu temporariamente
a pose, mas não a majestade underground nos
idos dos 1970’s.
Em inglês sem legendas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário