segunda-feira, 18 de novembro de 2013

CAIXA DE MÚSICA 109





Roberto Rillo Bíscaro

Quando o mercado fonográfico ianque – e em certo sentido, planetário - transferiu seu centro de Nova York a Los Angeles (leia aqui), esse foi apenas mais um golpe pra apodrecer a Grande Maçã. A crise política e petroleira dos anos 70 faliu a cidade, fedida por greves de lixeiros ou escurecida por apagões. Woody Allen caracteristicamente não sentia isso, mas em alguns bairros a coisa era literalmente punk.
Semana passada escrevi sobre documentário da BBC que narra o nascimento da disco music. Hoje, resenho Once Upon a Time in New York: the Birth of Hip Hop, Disco and Punk (2011), da mesma emissora. Os 60 minutos do programa explicam como esses movimentos seminais nasceram em meio ao - e parte em consequência do - caos urbano.
Codificado como movimento estético e moda na pindaíba inglesa setentista, o punk teve suas raízes no lado selvagem da geração sessentista nova-iorquina, que não queria ou podia compartilhar os sonhos ensolarados de paz e amor hippies. O Velvet Underground, do recém-falecido Lou Reed, e depois os bofes travestidos do New York Dolls (ídolos de Morrissey, dos Smiths) abriram caminhos alternativos e distorcidos pruma geração – predominantemente branca – que vinha à Nova York e congregava-se no CBGB, lendário clube que reunia artistas tão distintos quanto Patti Smith, Television, Blondie, Ramones e Talking Heads.
Intenções/pretensões experimentais e/ou literárias à parte, esses artistas desprezavam o sistema estelar de virtuoses do rock, tipo Eric Clapton e Yes. Os 3 acordes rudimentares dos Ramones e a tosqueira da fase inicial do Blondie enfatizavam a atitude sobre a técnica e o pavio punk estava ignificado.


Se a situação não estava fácil pros brancos, imagine bairros como o negro Bronx, infestado de gangues e assombrado por taxas alarmantes de desemprego. Excluídos do elitista Studio 54 – até a então em baixa Cher foi barrada! -, a solução pra dançar e se divertir era instalar o som na rua e promover festas, que apaziguavam grupos rivais, incorporavam outras sub-culturas como a dos grafiteiros e experimentavam novas combinações e possibilidades sônicas. Manos como Afrika Bambataa misturavam faixas de diferentes estilos – funk, africanos, caribenhos, Kraftwerk (claro!) – em suas mesas de discotecagem e compunham letras críticas, mais faladas do que cantadas.
 O que o documentário não tem tempo ou interesse em abordar é a homofobia/misoginia de boa parte da comunidade afro-descendente, indisposta a frequentar as festas disco.
De qualquer modo, esse outro grupo de insatisfeitos culturais, criou o hip hop, que sairia do gueto pra se constituir no gênero musical dominante no mercado por décadas.
E quem melhor pra catalisar essas 3 vertentes senão o Blondie? Inicialmente punkoso, com um clássico disco em seu CV – Heart of Glass – o Blondie pode ser considerado o responsável pela introdução do rap/hip hop ao grande público. A musa Debbie Harry visitou uma das festas no Bronx e incorporou um rapeado numa das faixas do algo errático, mas multiplatinado Rapture (1981). Outro pavio incandescido. 

Once Upon a Time in New York: the Birth of Hip Hop, Disco and Punk põe em perspectiva o papel fundamental da Nova Roma, que perdeu temporariamente a pose, mas não a majestade underground nos idos dos 1970’s.
Em inglês sem legendas.

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