Roberto Rillo Bíscaro
Na mocidade, passava horas em lojas de discos; onde
descobria coisas novas e contatava gente com gostos semelhantes, que se
tornavam amigos.
Em Penápolis, havia a Jaó Discos e Fitas, ponto de
encontro de boa parte da moçada local. Jaó e a esposa Judith nos aguentavam lá quase
diariamente, pentelhando, fuçando. Era comum nos anos 80 a gravação de fitas. A
pessoa ia à loja, selecionava faixas de diferentes álbuns – ou algum disco
inteiro – e depois curtia a seleção desejada no carro ou alhures. Sem saber,
vivíamos o ocaso do LP, mesmo que o CD estivesse galopando em nossa direção.
Pra conhecer melhor o período da supremacia e as causas
da decadência do formato álbum, assisti a When Albuns Ruled the World (2013),
da BBC. Centrado no contexto anglo-norte-americano, o documentário comenta
sobre álbuns fundamentais dos anos 60 e 70, além de dar espaço às capas e à
arte gráfica, componentes fundamentais do fetiche pelo bolachão de vinil.
O disco de 33 RPMs, que comporta mais de 40 minutos de
gravação, foi criado no fim da década de 1940 e durante anos foi veículo pra
música erudita e trilhas sonoras de musicais. A juventude, que curtia rock/pop,
consumia mais compactos com os grandes sucessos. A indústria fonográfica era
voltada pra produção de singles,
canções projetadas pras paradas de sucesso; o resto dos álbuns era recheado de fillers, que, como indica o termo, era pra preencher o espaço.
O uso do formato LP como veículo de ideias mais
consistentes pra música jovem nasceu nos EUA, com artistas como Bob Dylan,
enchendo os 2 lados de mensagens de protesto e conscientização política.
1967 marcou o lançamento do fundamental Sgt. Pepper’s
Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, que levou o rock definitivamente ao estatuto
de arte. A importância da obra é tão imensa, que basta dizer que os meninos de
Liverpool – assistidos pelo produtor George Martin – inventaram uma nova
sonoridade, escancararam as portas da percepção pra experimentações mil em
estúdio, inventaram o conceito de metabanda e conceitualizaram a capa.
Auxiliados pelas novas estações FM – que executavam não
apenas os singles e estavam abertas a faixas mais alternativas – o álbum de 33
RPMs adentrou os anos 1970 como o produto cultural mais lucrativo.
A importância e divulgação dos LPs foram tão marcantes e um fenômeno tão rock, que esse gênero influenciou artisticamente soulmen como Marvin Gaye e jazzmen, como Miles Davis, que inventou o jazz-rock.
When Albuns Ruled the World pincela exemplos
significativos dessa primazia, como os álbuns introspectivos da galera de Los
Angeles, como Joni Mitchell (tratei desse assunto aqui); o caso de Tubular
Bells (1973), álbum do então desconhecido Mike Oldfield, que sozinho catapultou a
Virgin Records ao status de império; a minúcia progressiva de bandas como Pink
Floyd e Yes, que acabaram se enroscando na própria grandiloquência e
pavimentando o caminho pra escarrada punk de 1977.
E como é dialeticamente irônico acordar pro fato de que
o manifesto em 3 acordes Never Mind the Bollocks (1977), dos Sex Pistols é tão
conceitual quanto o exagero execrado do conceitual Tales from Topographic
Oceans (1973), do Yes.
Sabia que existe estreita
relação entre a crise setentista do petróleo e a proliferação de álbuns ao vivo
e greatest hits/best ofs? Aprenda
vendo o documentário no You Tube, em inglês sem legendas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário