Roberto Rillo Bíscaro
Webséries e novelas existiam, mas em 1 de fevereiro a Netflix lançou os 13 episódios da primeira temporada de House of Cards e fez história. Produção milionária com atores classe A; baseada em mini noventista da BBC (tá no HD externo), que por sua vez calcara-se num livro; cercada de publicidade e expectativa.
Webséries e novelas existiam, mas em 1 de fevereiro a Netflix lançou os 13 episódios da primeira temporada de House of Cards e fez história. Produção milionária com atores classe A; baseada em mini noventista da BBC (tá no HD externo), que por sua vez calcara-se num livro; cercada de publicidade e expectativa.
Disseram que desnortearia críticos, acostumados a
resenhar homeopaticamente, como os capítulos oferecidos ao telepúblico. Infundado:
comento temporadas e mesmo séries inteiras faz tempo, sem estragar surpresas. Viu
que instrutivo se críticos e o comentador lessem meu blog?
Prefiro ver temporadas completas. Poupa ansiedade
semanal da espera pelo próximo episódio e tudo fica mais fresco na cachola. Não
havendo longos e entediantes intervalos comerciais, melhor! Achei digna a
inciativa da Netflix, e a conferi.
House of Cards começa como história de vingança e altas
tramoias na capital estadunidense. Parte dum desalentador pressuposto que
parece generalizado: política(o) não presta. Ao congressista Frank Underwood
fora prometido o cargo de Secretário de Estado. Quando o Presidente dá pra
trás, Francis inicia maligno e certeiro acerto de contas.
Underwoood é maquiavélico, prevê reações e movimentos
dos antagonistas e as coisas se encaixam – malgrado contratempos pra dar
suspense e longevidade à narrativa – melhor do que Lego. Admira o sujeito não
ter usado todo esse poder pra conseguir o cargo que queria no começo, né?! Pra falar
sobre Underwood, nada como ser cínico igual.
Diferentemente da vingança de Revenge, Frank Underwood
– Kevin Spacey, brilhante, intimidador – não foi construído pra ser gostado
como Emily Thorne (comigo não funciona, sou Grayson roxo!). Ele é desprezível,
capaz de qualquer coisa pra conseguir o que quer. Como então não deu pra ser
Secretário!?
A construção da personagem apoiou-se parcialmente
num estereótipo desgastado. Quando declara que papai era zé-ninguém e mami a
força mo(a)triz, pensei: “pai ausente, mãe dominadora? Beesha!” Não deu outra,
quando num episódio – moroso – em que a trama desacelera pra se reconfigurar,
ele confessa antiga atração por colega de academia militar. Bicha enrustida,
mas elas existem e podem mesmo ser perversas, fazer o quê? (espírito suíno, entreguei
uma pseudo-surpresa!)
A série utiliza recurso teatral desacreditado há décadas
pelo Naturalismo: o aparte. Underwood mostra seu lado mais perverso e
“verdadeiro” em falas direcionadas ao público, enquanto a ação congela-se
momentaneamente. Isso dispensa um narrador onisciente – mimetizando o mundo sem
Deus da personagem.
Frank é casado, mas nunca aparece em situação
sexualizada com Claire, a chiquetéria Robin Wright, miraculosa num papel bem
menos desenvolvido do que o de Spacey. Uma das tantas boas sacadas de House é
que Claire preside uma ONG. Agora diga: como uma ONG pode ser não-governamental
estando tão próxima do Capitólio?
House of Cards finge evitar
o tom bombástico de soap da outra
trama política de sucesso no momento, Scandal. Até o clímax da temporada é
discreto. Como amo novelão espalhafatoso, sou mais Scandal, mas House of Cards
é inteligente e pretendo ver a segunda temporada.
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