Detetive Diletante de Down Under
Roberto Rillo Bíscaro
Estou mais televisivo e isso reflete nas postagens
sobre cine, quase desaparecidas. Tento, porém, não cair no jugo das séries
norte-americanas, o que vejo ocorrer com frequência desalentadora, a ponto de
ouvir que programa ianque nem parece estrangeiro.
Recém-terminei os 10 episódios da temporada de estreia
da australiana The Doctor Blake Mysteries (2013). Histórias de investigação
policial conduzidas por um amador, o Dr. Lucien Blake, médico forense da
pequena Ballarat. A cidade existe fora das telinhas e possui uns 80 mil
habitantes. Quando a série se passa, fins dos anos 50, devia ter bem menos. Com
pelo menos um brutal assassinato por episódio, Ballarat deixa muita cidade
brasuca no chinelo!
O Dr. Blake viveu décadas longe da Austrália e passou
poucas e boas – descobrimos ao longo dos episódios. Quando o pai falece, volta
pra assumir sua clínica, trabalhar na polícia e viver com uma família estendida,
inclusive com a governanta, que arrasta as asas pra ele e ajuda-o nas
investigações com palpites e fofocas sobre os locais. Aquela coisa intuição e
instinto femininos, sabe?
No começo, caracterizaram
Dr. Blake como beberrão, pra entendermos que é problemático e meio forasteiro. Isso é desenfatizado rapidinho. Craig
McLachlan é bem vestido, penteado, asseado, barbeado, educado e apessoado
demais pra ser um bêbado. Vez ou outra exagera no uísque
pra nos relembrar de sua dor e segredos, mas nada que o despenteie ou o torne
antipático. A série cai como luva prum público maduro, talvez predominantemente
feminino.
The Doctor Blake Mysteries segue a tradição dos detetives amadores dos anos 70/80, abundantes nos desenhos animados (Tutubarão, Josie e as Gatinhas) e seriados como Casal 20. Por isso, interessei-me. Mas, sabemos que essa tradição retrocede às histórias de aldeia de Miss Marple.
E a série é realmente retrô e “britânica”, inclusive na
melancolia chique da música de abertura, nada apressada como as
norte-americanas atuais. E conseguiram que uma cidade na Austrália – que os
britânicos apelidaram de down under – pareça tão nublada quanto uma inglesa.
Desprovida de celulares, testes de DNA, alta tecnologia
forense e outras Criminal Mindices, The Doctor Blake Mysteries criou um
protagonista que improvisa algumas das técnicas de investigação vistas nesses
seriados policiais mais cotados. Tirando a explicitude de corpos carbonizados
ou decepados, os mistérios do Dr. Blake têm o charme de outrora. Uma das tramas
envolve um concurso de begônias; quer coisa mais “detetive diletante”? Tinha
mesmo que ser temporalmente afastada dessa época e de grandes metrópoles pra
poder ser como é.
Tudo fofo e entretido com mortes tipo eletrocussão por
televisor, suspeito errado e criminoso(a)-surpresa, com motivação sempre
fugindo ao que parecia óbvio.
Quero mais.
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