Mais de uma vez elogiei filmes e séries por seu charme
retrô. Releituras, revivals; amo
muito tudo isso, mas tem que possuir charme, elemento do qual a comédia
britânica Vicious é destituída.
Os 6 episódios da temporada de estreia foram exibidos
no primeiro semestre pela iTV, a mesma de Downton Abbey – citada à larga em um
episódio. Vi em 3 dias com a vã esperança de que o nível subisse. Vicious ter
sido renovada pruma segunda vinda pode significar que algo potencialmente
inteligente e/ou divertido ficou fora do ar. Crime.
Vicious centra-se num casal gay junto há 48 anos. O
tempo e as derrotas individuais fizeram com que Freddie e Stuart passem o tempo
se atacando e diminuindo, embora se amem. O espectador é jogado nessa arena de
leoas estereotipadamente afetadas. O jovem vizinho hétero e a velha amiga
desesperada por homem aparecem todo episódio pra contribuir com mais sem
gracismo repetitivo.
O cenário permanece inalterado quase o tempo todo,
ainda existe a plateia programada pra rir a qualquer piada, fazendo com que o show se pareça com seus congêneres dos
anos 1970. O estereótipo da bicha velha afetada e podre empurra Vicious ainda mais
pra trás temporalmente.
A efeminação exagerada do casal nem me incomodou,
afinal, é típico da comédia exagerar na representação, caricaturando tipos. Nem
considero Vicious homofóbico – pelo menos não intencionalmente, embora permita
tal leitura – até porque Sirs Ian McKellen e Derek Jacobi são gays.
Os atores parecem se divertir em cena, mas mal consegui
sorrir. Em 2013, ainda há graça em mangas de casaco arrancadas ou pés ficando
presos sob mesas? E o que dizer das piadas fossilizadas a partir mesmo do
primeiro episódio? Não demora pra percebermos os truques baratos dos diálogos
supostamente engraçados. Exemplo: a partir da terceira piada aprendemos que se
alguém deixa uma situação em aberto pra alguma ação ou réplica, elas virão em
sentido contrário. Tão divertido e instigante como enxugar louça.
McKellen e Jacobi – 2 instituições das artes cênicas
britânicas – devem estar desesperados pra garantir os fundos necessários pruma
aposentadoria luxuosa ou relutam em abandonar o protagonismo. Só isso explica o
aceite pra participar dessa bomba. Fosse eu vicious
como Stuart e Freddie, escreveria que estão no estágio inicial de
senilidade e começam a perder o senso do ridículo.
Pra não dizer que sou azedo, curti a música de
abertura, regravação oitentista de Never Can Say Goodbye, dos Communards, na
voz de Jimmy Somerville, tentativa inglesa branquela de soar como o divo disco Sylvester.
E ri uma vez, sim, apenas uma risada em 6 episódios.
Embora também totalmente previsível, o voice
over de Judi Dench, vivendo ela mesma ao telefone, foi impagável.
Nem uma noite de insônia me
fará perder tempo com a segunda temporada.
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