terça-feira, 24 de dezembro de 2013

TELINHA QUENTE 104

Roberto Rillo Bíscaro

Adolf Hitler passou os últimos meses da Segunda Guerra num abrigo subterrâneo em Berlim. O Füher foi pra baixo da terra pra já ficar mais perto do inferno, onde espero que esteja torrando. Sem planejar, vi 2 produções passadas durante o encerramento do doidivanas nazista em tempo de juntá-las numa postagem.
Procurando Anthony Hopkins no You Tube, achei The Bunker (1981), longo telefilme produzido e exibido pela norte-americana CBS.
Mesmo com a guerra perdida, puxa-sacos do desempoderado líder seguem com discursos de aniquilamento do inimigo. Na verdade, alguns do círculo mais íntimo de Hitler eram tão fanáticos – e teriam tanto a prestar contas - que se dispuseram a perecer com seu mentor.
A película tem forte sensação claustrofóbica por ser quase toda no interior do abrigo, mas também pelo tom deprê de “sonho acabou” que acomete quase todos. Hopkins transmite o amargor da derrota sentido pelo Füher tão bem quanto encena aqueles ataques histéricos nojentos vistos durante o berreiro que são seus famosos discursos.
Existe uma tentativa de mostrar o lado mais humano de Hitler, o que sempre agrada os amantes da “imparcialidade” narrativa. Hitler pode ter sido carinhoso com algumas pessoas, mas nada apaga a sua culpa no genocídio de milhões. Era asqueroso e Hopkins mimetiza isso, tornando-se idem. Que ator!
A iminência da chegada do exército russo desespera a todos, temerosos de caírem em mãos Vermelhas. Aí está elemento bem parcial de The Bunker: diversas falas revelam inquietude muito maior com relação aos soviéticos do que com os nazistas. Chega-se ao ponto de a sina duma das apoiadoras de Hitler ser descrita como mais “leve”, porque foi capturada pelos ingleses. No início dos 80’s, a Guerra Fria fervia e o telefilme é ianque. Mas, a imparcialidade tá garantida mostrando a humanidade de Hitler, viu gente? 
Sem legendas: 

Durante visita a São Petersburgo e Moscou, em julho, ouvi falar muito na Segunda Guerra Mundial, conhecida pelos russos como a Grande Guerra Patriótica. Por estar mais próxima da Alemanha do que os EUA e ter tido seu território invadido, a União Soviética sofreu bem mais com o conflito. Como estamos na órbita estadunidense, tendemos a conhecer sua versão heroica e desconsiderar o esforço soviético, propositalmente diminuído ou apagado devido à Guerra Fria. 
Pra ter contato com a versão deles dos fatos, assisti à minissérie 17 Momentos da Primavera (traduzi o título a partir das legendas em inglês pelas quais acompanhei o programa). Não tenciono santificar ou demonizar nenhum dos 2 impérios, apenas queria ver uma versão desconhecida.
Quando exibida pela primeira vez, em 1973, a minissérie tornou-se fenômeno de audiência. Li que até a taxa de criminalidade diminuía durante a exibição dos 13 capítulos. Uma espécie de DALLAS soviética em termos de audiência.
A trama centra-se no espião soviético Stierlitz, infiltrado no alto escalão nazista. Em fevereiro de 1945, Hitler já se escondera em seu porão e não tinha mais tanto poder. Cientes de que a guerra estava perdida, alguns figurões nazistas aproveitaram-se do sumiço do Füher pra iniciar conversações com os norte-americanos e assegurar um tratado de paz pra livrar a Alemanha do perigo comunista, visto que a URSS ganhava terreno a passos largos. A missão do agente-secreto era melar tais acordos. O tom de 17 Moments of Spring é de que os Aliados na hora H traíram a URSS.
Filmada em branco e preto, a minissérie tem ritmo lento e às vezes semidocumental, com longas cenas e diálogos. Somando-se às interpretações algo remotas, não há o apelo emocional das produções ocidentais, de modo geral, podendo afugentar telespectadores. Vyacheslav Tikhonov está soberbo e magnético como Stierlitz, numa atuação contida que transmite toda a racionalidade e frieza atribuídas ao personagem.  
Existe um narrador que algumas vezes bordeia o discurso indireto livre; pena que isso não tenha sido explorado mais a fundo. Também gostei bastante de ver o equivalente soviético das cenas de tomada de cidades, pois apenas conhecia as muito difundidas norte-americanas. Não são tão diferentes.
A melancólica trilha sonora jamais me sairá da cabeça. Combina tanto com o tom da cinematografia, interpretações e mensagem geral da obra! 
A versão que vi foi baixada, mas parece que no You Tube existe a série completa, com opções de legenda em inglês e espanhol. Eis o link pro capítulo primeiro.

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