Roberto Rillo Bíscaro
Uma das acepções de barulho é qualquer som indesejável.
Tal definição contrasta com a de música, atividade humana que nasce da vontade
de produzir sons com ritmo, melodia etc. Entretanto, existe um gênero chamado noise; a elevação do barulho à categoria
de música.
Controverso e inacessível pra maioria, consigo curtir noise quando domesticadamente inserido
em canções. Bjork, A Place to Bury Strangers, Peter Gabriel, Cocteau Twins,
Crystal Castles e outros amados têm bocadinhos noise em trechos de canções. Quando/Se passa disso, me dá no saco.
Se quisesse barulho, trabalharia numa metalúrgica.
Curioso, vi People Who Do Noise (2008), achando que
aprenderia sobre a história do gênero, afinal, o pessoal do Krautrock e bandas
80’s como Test Department e Einsturzende Neubaten flertavam com o estilo. Não
que sejam grupos queridos, mas valeria a pena conhecer.
Nesse quesito
decepcionei-me. O documentário foca a surpreendentemente vasta cena noise de Portland, no semi-importante
estado norte-americano do Oregon. Uma multidão de artistas fala de suas
inspirações e modos de produzir e encarar o noise.
A liberação punk da necessidade de saber tocar um
instrumento muito bem é apontada por todos como um dos nascedouros do noise. Não que as experimentos com
ruídos tenham surgido depois do levante de 1977, mas se o punk reduziu a
perícia pra apenas 3 acordes, o noise
dispensa totalmente a necessidade de saber tocar. Pode-se fazer barulho com
qualquer coisa, desde material caseiro até geringonças eletrônicas.
Sem narrador, a galera de Portland fica à vontade pra
racionalizar sobre o significado, importância e validade artística do
controvertido estilo. Os argumentos vão desde o noise ser a “verdadeira música cósmica”, passando pelo fato de ser
acessível a qualquer um, portanto democrático e verdadeiramente punk, até
culminar na crença dum inescapável apocalipse, cuja única trilha sonora capaz
de representar seria o noise.
Interessante pra saber o
que se passa na cachola dessa moçada barulhenta, People Who Do Noise traz
bastantes amostras de seus trabalhos. Não mudou meu conceito. Mesmo que pudesse
me bronzear, noise não seria minha
praia.
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