Roberto Rillo Bíscaro
Li no The Guardian que Phil Collins considera volta aosestúdios e talvez palcos, solo ou com o Genesis. Aposentado por problemas de audição e nos pulsos, o baterista tem vontade de excursionar pela Austrália e América do Sul, onde a banda jamais esteve (Phil, você tocou com o Genesis no Rio e em Sampa, em 77!).
Sei lá se finalmente verei minha banda favorita ao
vivo, mas a notícia despertou tanta saudade dos tempos em que eu era aquele
tipo de fã-estereótipo - que escarafunchava qualquer migalha de notícia ou
defendia os ídolos mesmo quando era injustificável – que decidi rever Genesis:
a History, documentário de 1990.
Sem ter onde reproduzi-la faz uns 10 anos, mantenho a
versão original em VHS, importada numa época em que a facilidade internética
nem passava por nossas cabeças. Baixei do You Tube o documentário completo, mas
ainda não tivera ânimo de revê-lo. Deixei de ser Genesis-dependente há muito
tempo, mas ainda são minha banda favorita e reassistir à Genesis: a History
(re)provou isso.
Com depoimentos dos 6 (ex-) integrantes principais –
Peter Gabriel, Anthony Philips, Steve Hackett, Mike Rutherford, Tony Banks e
Phil Collins – e 2 ou 3 figuras importantes pra história da banda, os quase 90
minutos de documentário são um painel introdutório competente englobando a
fundação sessentista do Genesis na esnobe Charterhouse School até o estouro pop
dos anos 80.
Uma das bandas-madrinha da vertente sinfônica do rock
progressivo, o Genesis era virtualmente desconhecido em sua nativa Inglaterra
até 1972, quando as máscaras e fantasias do vocalista Peter Gabriel começaram a
atrair a imprensa. Os genesianos são tão sinceros quanto possível pra pessoas
públicas ao relatarem o quanto isso atrapalhou posteriormente e Gabriel afirma
que problemas pessoais acoplados ao temor de se transformar no típico e
excessivo rock star setentista
levaram-no a abandonar o grupo e partir pruma carreira-solo criticamente
respeitada, bem diferente do Genesis, sempre vilipendiado pela abertamente
parcial imprensa musical britânica.
Collins jamais escondeu não apreciar a fase prog da
banda e quando teve poder suficiente soprou black
music e pop no Genesis pra
transformá-lo numa locomotiva de sucessos nos anos 80. Por isso, soa sincera a
admiração do cantor-baterista pela chacoalhada punk, que condenou ao ostracismo
quem não se atualizou.
Com muito material ao vivo
de época, Genesis: a History delineia as carreiras-solo dalguns membros e
especialmente lamenta o sempre fracasso comercial do trabalho de Tony Banks.
Embora concorde que o tecladista seja responsável pelo material que
provavelmente mais encante os fãs “ortodoxos” – eu incluso – nunca me
surpreendeu a obscuridade comercial de seus álbuns, que quando tentam ser pop
são sem sal. O especial Opening Night é mais indicado pra fãs estabelecidos. Tinha-o em meu HD há eras, mas só pude vê-lo semana passada.
Em 1992, o Genesis lançou We Can’t Dance, último álbum
com Phil Collins; pra muitos fãs – como eu– o canto do cisne genesiano. Em 97,
sairia o fiasco Calling All Stations, com o pobre Ray Wilson tentando a impossibilidade
de substituir o baixinho baterista cantor.
Diferentemente de tantas bandas prog que não se reciclaram, o Genesis voava na estratosfera
pop/rock no início dos anos 90 e o especial pra TV norte-americana prova isso,
mostrando os caras fazendo comercial pra companhia aérea e sendo patrocinados
por marca gigante de cerveja.
O Genesis escolheu Dallas pra iniciar a turnê mundial
de divulgação do disco. Opening Night mostra preparativos técnicos pra
excursão, entremeados com entrevistas com Banks, Collins e Rutherford. Bom
humor sempre foi marca registrada desses ingleses e mesmo o potencialmente
sisudo Banks sempre foi muito simpático. Em Opening Night os então 40tões não
estão diferentes.
Pra fãs casuais ou neófitos – será que os há? – talvez
não interesse o making of do clipe
pra Jesus He Knows Me, mas a galera velha-guarda certamente adorará.
Trechos de canções executadas durante os ensaios gerais
pros shows, que abusavam da alta tecnologia de áudio e vídeo da época, dão
ideia da perícia, capricho e alta grana investida na turnê de We Can’t Dance,
que, longe de ser grande álbum, entupiu os já obesos cofres da banda.
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