sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

PAPIRO VIRTUAL 70


Será que quando Maurice Joseph Mickelwhite adotou o nome artístico Michael Caine, previu o trocadilho My Cocaine? Isso o livro de memórias The Elephant to Hollywood (2010) não revela, mas o distinto ator britânico conta que escolheu o sobrenome a partir do filme The Caine Mutiny (A Nave da Revolta, 1954), estrelado por seu ídolo Humphrey Bogart.
No prólogo, Sir Michael informa que contará como se deu a reviravolta em sua carreira. Em 1992, os bons roteiros pararam de chegar. Ele recebia refugos de outros atores – textos com anotações e até manchas de café – e não era mais chamado pra ser o galã. A partir dum conselho de Jack Nicholson, Michael passou a encarar sua carreira na madureza de outra forma e jura que desde então vem vivendo seu melhor momento, com maior espaço entre filmes e dedicando-se mais à família, amigos e viagens,.
Deixou de ser uma estrela de cinema pra ser um ator de cine. A diferença, segundo ele, é que na primeira categoria os roteiros são adequados aos astros e na segunda, os atores é que têm que se enquadrar aos textos.
Ele escreve que não pode deixar de relatar sua história pregressa, seus anos formativos e de estrelato, mas somos levados a crer que a ênfase será no período pós-92. Senti-me algo enganado, porque 70% do texto transcorrem até atingirmos esse ano. Ele conta muita coisa sobre sua origem pobre, seu tempo no exército, o início do sucesso e a vida de astro no jet set. Não fiquei bravo, porém. Não terei que ler seu primeiro livro de memórias, What’s It All About? (1992); aprendi tudo o que necessito sobre sua vida e carreira.
O estilo de The Elephant to Holywood é aprazível e bem-humorado, descontadas a modéstia por vezes postiça e alguns trechos dos 30% finais, onde, parece que sem muito a narrar, o ator fala sobre seu jardim, as diferenças nas estações inglesas e oferece receitas culinárias, Ou será que somos nós, que, ao ler biografia de famoso só queremos saber de glamour?
Michael Caine tem uma filmografia muito desnivelada. Vai de filmes e atuações memoráveis como Educating Rita (1983) e Hanna e Suas Irmãs (1986) a canastrices e bombas como o terror A Mão (1981, dirigido por Ollver Stone!) ou On Deadly Ground (1994). Esse último foi aceito por desespero pela escassez de roteiros. Curioso é que ter filmado no gélido Alasca incomodou mais do que ter atuado num filme do pavoroso Steven Seagal. Outras porcarias foram feitas por grana pra comprar casas ou pra se manter sob os holofotes.
Caine não evita a fórmula de citar celebridades conhecidas e supostamente amigas a torto e a direito, mas é cauteloso ao falar dos “perigos” de Hollywood e Beverly Hills. Reconhece que os há em quantidade, mas não os revela. Até escola de segundo grau é terreno perigoso, Sir Michael!
Optando pela identidade de boa praça meio deslumbrado, não há alfinetadas em astros e estrelas vivos. Marlon Brando ganha trecho menos laudatórios, mas daí, fustigar cachorro morto sempre foi mais seguro. 

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