A temporada teatral argentina de verão oferecia opções
com diversos atores que queria ver. Conhecer seus trabalhos em cine e tele
aumentava a curiosidade de vê-los no palco. Mas, pra não tornar o teatro mera
vitrine de telinhas ou telonas, não sou fechado a peças com atores pra mim
desconhecidos, isso seria muita pobreza.
Em Mar Del Plata fui 2 vezes ao teatro, aliás, antes de
chegar ao hotel, compramos os ingressos pra Casa de Bernarda Alba, que se
encaixa na categoria espetáculo que queria ver, mesmo sem conhecer o elenco.
O clássico do espanhol Federico Garcia Lorca era
estrelado por uma ex-comediante ou vedete (eles ainda têm muitas e vivem na
mídia) amada no país, Norma Pons. Dias antes de ir ao teatro, vira-a em um
programa de celebridades reclamando sobre porquê Mirta Legrand – mistura de
Hebe com Lolita Rodrigues – não a convidara a participar de seu
programa-almoço. Achei meio apelativo demais pra octogenária (ou quase) atriz e
duvidei de uma interpretação sólida da matriarca espanhola que mantém suas
filhas em tenso cativeiro.
Não errei. A Bernarda de Pons é gritona e caricata,
batendo a bengala no chão desesperadamente. A falta de controle vocal deixava-a
rouca e sem voz, enfim, o protagonismo só se justificou pela popularidade da
atriz; ela não tem fôlego (em mais de um sentido) pro papel.
Ao final, aplaudi de pé, juntamente com um teatro
lotado que parecia adorá-la. Como não admirar uma anciã que fazia 2 sessões
noturnas, 6 dias por semana? Mesmo limitada, Pons extravazava energia e o resto
do elenco era bastante bom, então, deu pra se divertir. Mas, não é uma montagem
histórica.
Na semana seguinte, veio a
notícia de que a atriz não segurou o rojão e saiu de cartaz. Até que durou
muito, porque a peça já fora encenada em Buenos Aires. Como Mar Del Plata lota
no trimestre dezembro-fevereiro, muitos shows e peças descem pro balneário.
Outra das várias opções era Uma Relación Pornográfica,
do nascido-no-Irã-mas-radicado-na-Bélgica Philippe Blasband. Fui por causa do
elenco, jamais ouvira falar da obra. Cecilia Roth, amada de séries como TratameBien e Epitáfios; Dario Grandinetti, de El Frasco (só pra citar obras
resenhadas no blog).
Num elegante cenário representando áreas dum hotel
parisiense, os 2 atuam com precisão, nuance e discrição um texto pouco
memorável. Inicialmente buscando parceiro sexual, um homem e uma mulher jamais
nomeados botam anúncio num jornal e começam encontros semanais até que a
relação ameaça transformar-se em algo mais. Mas será que esse par dá conta duma
relação que não seja só pornográfica? Se nem corajem de revelar os nomes eles têm,
teriam força pra enfrentar a barra duma relação de amor?
Fala-se muito sobre sexo, muito sobre como “cada um se
sente”, mas o desfecho coloca a questão da relevância de tudo o que foi falado,
falado, falado. Tudo quase sempre polido e “civilizado”, a peça não muito longa
dá soninho às vezes.
Mas, valeu pra ver de perto a bela Cecilia.
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