quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

TEATRO PORTENHO



Andávamos pela Avenida Corrientes, Carlito e eu, quando vi cartaz anunciando peça com meu ídolo Júlio Chavez. Tirei foto e entramos no Paseo la Plaza, complexo de teatros, restaurantes e cafés. O miolo do quarteirão foi remodelado e a gente não tem ideia, passando pela frente, de quanta coisa há no Paseo.

Comecinho de janeiro e nem sabia quando voltaria ao Brasil; cogitava lá pelo dia 15. A bilheteira disse que a peça estrearia dia 18 e pro dia 19 havia assentos na boca do palco. Quando vira Chavez em La Cabra, sentara-me no gargarejo e queria ficar novamente colado no maior ator argentino da atualidade. Pra variar, o cartão de crédito com chip não foi aceito – Argentina, modernize-se, tem muito turista aí! – e Carlito teve que me socorrer, mas consegui as entradas. Júlio Chavez determinou que meu retorno ao Brasil demorasse mais do que o suposto. Ele manda. Ele pode.
A obra era Red, de Jon Logan, primeiramente encenada em Londres, em 2009. O pintor expressionista abstrato Mark Rothko aceitara uma comissão de centenas de milhares de dólares pra pintar murais prum restaurante exclusivérrimo. Contrata um ajudante pra dar conta da tarefa e a tensão entre o pintor e a realidade, seus sonhos e crenças e também em relação ao jovem constitui o conflito de Red, baseada no manjado modelo de botar 2 personagens de idades díspares em cena e ver as faíscas dispararem. Em minha primeira visita a Buenos Aires vi Visitando Mr. Green, que segue o mesmo esquema.

Se formalmente essas peças não apresentam novidade, são propícias pra grandes atores duelarem em cena. Geralmente uma estrela mais madura contracenando com jovem, resultando em mais luz pra estrela. No caso de Mr. Green, o venerável Pepe Soriano atuando ao lado dum galã de telenovela. Todo mundo saiu ganhando: El Sori engoliu o moço, a produção nadou em grana porque galã de TV atrai plateia e este ganhou mais respeitabilidade por ter feito teatro.

Em Red, Júlio Chavez – sob ataque na mídia argentina por supostamente ser antipático com colegas duma telenovela (ele pode!) – divide o palco com Gerardo Otero, muito bem como o aspirante a pintor e antagonista de Rothko, alternando momentos de fragilidade, ataque e emoção.
Mas, o show é de Chavez; o texto, o cartaz, as fotos da produção, as entrevistas e divulgação, tudo (re)afirma isso. E ele dá outro banho. Desde o andar e o sentar dum homem velhusco e cansado até distintas fisionomias, tons de voz, Mestre Júlio não deixa o espetáculo cair na monotonia nem por uma fração de segundos. Dá vontade de ir a Buenos Aires no feriado de Carnaval pra fruí-lo novamente.
Pena que não pude sacar fotos: a droga do celular desligou sozinho e quando consegui fazê-lo funcionar, Júlio já deixara o palco após aplausos entusiásticos duma plateia hipnotizada por seu talento.

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