Esse ponto bipartido é a desculpa perfeita pra colocar
em marcha complexa trama policial envolvendo os 2 países escandinavos meio
rivais, na primeira temporada de Bron/Broen, respectivamente, sueco e
dinamarquês pra Ponte. Exibida em 2011, o programa foi exportado pra mais de
120 países e originou 2 releituras; uma estadunidense (The Bridge, que prefiro
não ver, depois da decepção com The Killing) e uma franco-britânica (The Tunnel;
acho não verei também.)
Pra que conferir cópias se vi o original sensacional? A
Ponte sorrateiramente viola o cérebro, viciando-o incontrolavelmente nesse
mundo sombrio do inverno sueco-dinamarquês (depois reclamam que os fantasiemos
sempre nublados!)
Não demora pra descobrirmos se tratar dum assassino em
série, que usa denúncias sociais como aparente motivação pra massacrar. Dentre
as inúmeras ambiguidades perversas d’A Ponte, há o fato de a população por
vezes se colocar ao lado do maníaco, porque suas denúncias de desigualdade são
genuínas.
Embora menos espalhafatoso que a pérola argentina
Epitáfios, A Ponte exige suspensão da descrença pra poder desfrutar de seu
desolador universo dramático. O serial
killer tem meios e acesso ilimitado pra realizar o que meticulosamente
planejara e tudo sai como esperava. O criminoso europeu e o argentino (da
primeira temporada) são aparentados. Quando se descortina a fonte de seus
desequilíbrios, até começamos a construir teorias pro desfecho, especialmente
no que se refere ao policial Martin Rohde. Não que Bron/Broen seja baseado em
Epitáfios, mas vale a pena ver as 2 primeiras temporadas pra comparar.
A dupla de detetives tem química perturbadora,
contribuindo essencialmente pra qualidade de A Ponte. Martin Rohde é o policial
dinamarquês imediatamente gostável, bonachão, que não liga muito pras regras.
Parece saído de inúmeros filmes e séries policiais, mas não se engane,
Bron/Broen não é qualquer série.
A policial sueca Saga Norén
é memorável. Com alguns traços de quem tem Síndrome de Asperger, ela mesma
admite ter muito em comum com o psicopata, quando um psicólogo apresenta um
perfil do assassino. Vivendo em seu mundo particular, sem ter muita noção das
amenidades sociais, a estranheza e as falas diretas de Saga proporcionam
momentos de humor desconfortáveis, mas muito apropriados ao universo algo
bizarro do programa. Pra tentar agradar a esposa de Martin – depois que esse
lhe ensinara que as pessoas podem gostar de conversar banalidades – Saga
agradece a comida. Quando perguntada se gostaria de ter a receita, dispara.
“Não, não estava gostoso” Ou quando aborda um bonitão num bar: “você gostaria
de ir pra casa e fazer sexo comigo”, assim, de chofre. A atriz Sofia Helin está
perfeita; um crime não amar Saga Norén!
Nenhum comentário:
Postar um comentário