A História Feito Novela
Júlio César foi tão poderoso que o sétimo mês foi nomeado
em sua homenagem pelo Senado romano. Conquistou a Gália, atravessou o Rubicão e
foi assassinado por Brutus. Seguiu-se guerra civil na República, entre Marco
Antônio e Otávio e, com a vitória do último, iniciou-se o Império Romano. Aprendi
na escola e com Lobato.
Essas personagens, juntamente com a rainha egípcia
Cleópatra, têm desfrutado de fama perene. De Shakespeare aos Smiths, passando
por Elizabeth Taylor, volta e meia são convocados a saírem dos anais
históricos.
Entre 2005 e 2007, a norte-americana HBO, a britânica
BBC e a italiana RAI consorciaram-se e levaram ao ar 2 temporadas da
superprodução Rome, que usa essas e outras personagens reais misturadas a uma galeria
ficcional pra contar histórias de intriga e guerra na Roma pré-cristã. Terminei
de ver os 22 episódios durante o Carnaval.
O formato de novelão grita, especialmente devido à
necessária adição das intrigas femininas em todos os níveis sociais. Numa
sociedade onde as fêmeas eram posse dos machos, não lhes restavam muitas opções
a não ser tramar por baixo dos panos, não infrequentemente lençóis. Sobram
envenenamentos, infidelidades, casamentos por conveniência e muita sedução.
Como seria difícil empatizar com gente tão fria e
calculista como os poderosos, os roteiristas pinçaram 2 legionários citados por
Júlio César em seus Comentários sobre a Guerra Gálica. Lucios Vorenos e Titus
Pullo são o elo do núcleo patrício com a plebe, bem ao estilo de nossas
telenovelas. Vorenos é muito chato com sua cabeça-dura de soldado ético e
certinho, então minha simpatia recaiu sobre o bonachão Titus. Mas, minha
favorita foi a mãe de Otávio. Interesseira, malvada e safada. A família do
futuro imperador era do bafão; rolava de tudo. Pequenininha, mas ordinária, amei!
Como os eventos ocorrem em espaços distantes e
dilatados temporalmente, às vezes, ficamos desorientados. Numa cena, anuncia-se
uma guerra; na seguinte, passaram-se meses, muda-se de Roma pra Grécia, o
conflito terminou e demoramos pra perceber. Na segunda temporada, tentaram
consertar com legendas, mas não foi consistente e durou pouco. Não estraga a
série, mas frustra.
Não pude evitar cogitar
quão cortada Roma deve ter resultado quando exibida em TVs abertas. As cenas de
nu são bem desinibidas, pra me expressar educadamente e a violência abunda em
jorros de sangue e membros decepados. Precisava tanto ou é, no fundo, coisa de
contemporâneo imaginando a antiguidade como selvagem?
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