quinta-feira, 6 de março de 2014

TELONA QUENTE 80

Roberto Rillo Bíscaro
Resenhar o documentário sobre Nordic Noir – a contemporânea literatura policial da Escandinávia – despertou a curiosidade por Stieg Larsson, autor da trilogia Millennium, sucesso até aqui no Brasil através do filme Os Homens que Não Amavam as Mulheres (ponto pra tradução brasileira). Gostei da história de ativismo político-social do escritor. Aproveitei o Carnaval pra ver a filmagem sueca (2009) e a norte-americana (2011) do romance.
Como o filme sueco apareceu antes, há quem repute a versão ianque como refilmagem. Incorreto. É uma releitura diferente do livro, ou alguém diz que uma das trocentas e trinta e três adaptações de Razão e Sensibilidade ou Romeu e Julieta é refilmagem do Ang Lee, Zefirelli ou Zé do Caixão?  
A versão puramente sueca – a ianque é coprodução com o país escandinavo – sai na vantagem, porque o título tem muito mais a ver com componente essencial da narrativa, a misoginia. Män Som Hatar Kvinnor significa homens que odeiam as mulheres, justamente o elemento permeador da trama detetivesca que envolve a procura por uma garota desaparecida. Os buscadores são um jornalista desacreditado publicamente por bulir com um magnata e uma garota-prodígio-problema, abusada por tudo quanto é lado pela machaiada. O título estadunidense The Girl With the Dragon Tatoo feticihiza tudo, bem ao estilo hollywoodiano de glamurizar violência contra a mulher.
O substrato nazista está muito mais patente na versão sueca, rendendo mais pontos comigo. O relacionamento sueco com o nazismo durante a Segunda Guerra veio como uma bofetada pra muitos que criam no conto carochento da neutralidade. Mas Larsson também estava preocupado – e muito, vejam o documentário – com os neonazistas, problema nada desconsiderável nessas sociedades outrora mais fechadas e iludidas pela falácia do paraíso social, mas que ora se veem num país onde 20% da população é imigrante.   
Na hora do acerto de contas com o assassino serial – não difícil de prever pros iniciados em histórias de detetives -, a versão sueca acaba por justificar a justiça pelas próprias mãos, mas pelo menos abre possibilidade de discutir o tema, o que não ocorre na norte-americana.
O final meio cor de rosa demais pro meu gosto podia ser menos detalhado na adaptação de 2011, que é OK, mas prefiro a escandinava, mesmo considerando que também não seja excitante como thriller.
Na verdade (1), vi The Girl with the Dragon Tatoo pela presença do sueco Stellan Skarsgard
Na verdade (2), ambos poderiam ser bem mais curtos.

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