Resenhar o documentário sobre Nordic Noir – a contemporânea literatura policial da Escandinávia – despertou a curiosidade por Stieg Larsson, autor da trilogia Millennium, sucesso até aqui no Brasil através do filme Os Homens que Não Amavam as Mulheres (ponto pra tradução brasileira). Gostei da história de ativismo político-social do escritor. Aproveitei o Carnaval pra ver a filmagem sueca (2009) e a norte-americana (2011) do romance.
Como o filme sueco apareceu antes, há quem repute a
versão ianque como refilmagem. Incorreto. É uma releitura diferente do livro,
ou alguém diz que uma das trocentas e trinta e três adaptações de Razão e
Sensibilidade ou Romeu e Julieta é refilmagem do Ang Lee, Zefirelli ou Zé do
Caixão?
A versão puramente sueca – a ianque é coprodução
com o país escandinavo – sai na vantagem, porque o título tem muito mais a ver
com componente essencial da narrativa, a misoginia. Män Som Hatar
Kvinnor significa homens que odeiam as mulheres, justamente o elemento
permeador da trama detetivesca que envolve a procura por uma garota
desaparecida. Os buscadores são um jornalista desacreditado publicamente por
bulir com um magnata e uma garota-prodígio-problema, abusada por tudo quanto é
lado pela machaiada. O título estadunidense The Girl With the Dragon Tatoo
feticihiza tudo, bem ao estilo hollywoodiano de glamurizar violência contra a
mulher.
O substrato
nazista está muito mais patente na versão sueca, rendendo mais pontos comigo. O
relacionamento sueco com o nazismo durante a Segunda Guerra veio como uma
bofetada pra muitos que criam no conto carochento da neutralidade. Mas Larsson
também estava preocupado – e muito, vejam o documentário – com os neonazistas,
problema nada desconsiderável nessas sociedades outrora mais fechadas e iludidas
pela falácia do paraíso social, mas que ora se veem num país onde 20% da
população é imigrante.
Na hora do acerto de
contas com o assassino serial – não difícil de prever pros iniciados em
histórias de detetives -, a versão sueca acaba por justificar a justiça pelas
próprias mãos, mas pelo menos abre possibilidade de discutir o tema, o que não ocorre
na norte-americana.
O final meio cor de rosa demais pro meu gosto podia ser
menos detalhado na adaptação de 2011, que é OK, mas prefiro a escandinava,
mesmo considerando que também não seja excitante como thriller.
Na verdade (1), vi The Girl with the Dragon Tatoo
pela presença do sueco Stellan Skarsgard
Na verdade (2), ambos
poderiam ser bem mais curtos.
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