Roberto Rillo Bíscaro
Em novembro, resenhei o documentário When Albums Ruled the World, que conta a ascensão do LP a partir da segunda metade dos anos 1960 (leia aqui). Um dos responsáveis pela consolidação do bolachão de vinil como objeto de desejo do consumidor pop foi o multiplatinado Goodbye Yellow Brick Road (GYBR), de Elton John (1973). O álbum duplo lançou o cantor ao superestrelato global e transformou-o de vez no tipo de artista que 4 anos depois o movimento punk execraria.
Em novembro, resenhei o documentário When Albums Ruled the World, que conta a ascensão do LP a partir da segunda metade dos anos 1960 (leia aqui). Um dos responsáveis pela consolidação do bolachão de vinil como objeto de desejo do consumidor pop foi o multiplatinado Goodbye Yellow Brick Road (GYBR), de Elton John (1973). O álbum duplo lançou o cantor ao superestrelato global e transformou-o de vez no tipo de artista que 4 anos depois o movimento punk execraria.
Mês passado saiu a edição super deluxe, celebrando as 4 décadas desse importante trabalho, repetidas
vezes presente em listas de discos mais influentes da história da música pop.
São 4 CDs e um DVD (não vi: não sou fã de Elton, apenas apreciador de muitas
canções).
O CD 1 traz GYBR remasterizado. Sob o risco de
ser queimado como herege, continuo achando um exagero a duplicidade o álbum,
exemplo da autoindulgência setentista.
Os 11 minutos da progressivóide Funeral For a Friend/Love Lies Bleeding
e faixas como Dirty Little Girl não estão à altura de obras-primas como a
faixa-título ou Candle In the Wind, tributo definitivo à Marylin Monroe, que,
25 anos mais tarde, em roupagem nova foi reeditada com esmagador sucesso pra
homenagear a Princesa do Povo. GYBR atira pra tudo quanto é lado; tem reggae
esquisito (Jamaica Jerk-Off), country faceiro(Social Disease), balada country
(Roy Rogers), roquinhos legais tipo Saturday Night’s Alright for Fighting e
delicinhas como Bennie and the Jets, Harmony e aquele final lindíssimo, com
violinos e guitarra chorona de I’ve Seen That Movie Too.
O CD 2 tem 19 faixas: versões demo, acústicas ou bônus do próprio Elton e regravações de canções
de GYBR por outros artistas. O primeiro grupo é sempre pra fãs inveterados;
ouvintes casuais geralmente caem de sono ou não se comovem com tais mimos. Além
de fanáticos, quem realmente precisa de uma demo
e de uma piano demo de Grey Seal? Philadelphia Freedom, single de 1975, com seu
instrumental aerado é ótima adição, assim como a cover de Elton pra Pinball
Wizard, do The Who. O single de Natal de 1973 também está incluso, mas serve
pra devotos, a não ser que você queira conhecer a vulgarete Ho! Ho! Ho! (Who'd
Be a Turkey), com humor bem tipicamente britânico. Bonitinha, mas, como diria
Nelson, ordinária. Jack Rabbit, lado B
do single pra Saturday Night’s Alright
for Fighting é country daqueles bem
caipiras, o que nos leva pra parte das regravações.
Parece tributo country a GYBR. Hunter Hayes, The Band Perry, Zac Brown Band são
nomes norte-americanos do sertanejo de lá e desse grupo destaca-se o primeiro
com sua cover pra faixa-título. Obviamente não ultrapassa a original, mas se
não tivéssemos parâmetro de comparação seria bem agradável. No começo dos anos
90 – pouco antes ou na época em que diversos dos artistas agora regravantes
estavam nascendo – saiu Two Rooms, álbum-tributo a Elton John e Bernard Taupin.
Sinead O’Connor escolheu a balada oitentista Sacrifice, despiu-a e botou-lhe a
roupa que quis, transformando-a em sua, mas mantendo algo do original. Emeli
Sandé é quem mais se aproxima da competência da irlandesa maluca e careca. Sua
versão de All the Girls Love Alice troca a roupagem rock-comportado do original
por uma mais eletronicamente contemporânea, mas mantendo um vocal que de certa
forma, tem mais inflexões dum certo Elton John do que a versão do próprio. O
resto é resto e sugiro distância de Benny and the Jets, dum tal Miguel feat.
Wale, que dá vontade de processar por desserviço ao original.
Os CDs 3 e 4 são registros dum show no Hammersmith Odeon, em
Londres. Várias vezes a versão ao vivo ultrapassa a de estúdio, mas registros
de shows podem ser armadilhas pra
ouvintes casuais. Canções estendidas,
afinação de instrumentos e falação com o público podem funcionar no momento do
espetáculo, mas fora desse contexto podem chatear. Sir Elton não chega a isso,
mas nada acrescenta a nenhuma faixa de estúdio e 8 minutos de Saturday Night’s
Alright for Fighting não são bolinho. Ele é um cantor correto. Só. É agradável
como interpreta suas canções, mas quando apela pro falsete... Nos finais de All
the Girls Love Alice e Benny and the Jets parece que estourou briga no
galinheiro. E o que dizer da experiência natimorta de “duelo” entre voz e
guitarra no fim da energética Love Likes Bleeding? Menos, gata, seu nome não é
Gal!
Quando GYBR completou 30 anos, saiu edição deluxe; 40tão, essa super deluxe. Torçamos pra que o músico não desencarne nos próximos
10 anos, caso contrário, na edição comemorativa de meio século, corre-se risco
de vir uma cápsula com um punhado de suas cinzas no pacote.
Nenhum comentário:
Postar um comentário