segunda-feira, 21 de abril de 2014

CAIXA DE MÚSICA 122



Roberto Rillo Bíscaro

Em 1983, 2 locomotivas pop lançaram primeiros álbuns: Madonna e Cyndi Lauper. Visualmente marcantes atendendo à necessidade da infante MTV; artisticamente espertas, sintetizando tendências underground em popice radiofônica; atitudinalmente marcantes, representando a garota independente, sexualmente ativa, enfim, a Modern Girl, já cantada pela escocesa Sheena Easton.
A imprensa do entretenimento divulga/inventa/insufla feudos, então, as 2 foram identificadas como rivais. Competição houve porque existem egos e milhões estão em jogo, mas jamais ouvi uma falando mal da outra. Madge partiu prum megaestrelato superexposto que duraria anos, ao passo que Lauper já não emplacava no Top Five lá por 88, 89. Mas, seguiu carreira bem sucedida como autora, no teatro e lançando álbuns. E influenciando artistas contemporâneos.  
She’s so Unusual tem que constar em qualquer lista prezável de álbuns influentes nos anos 80. Sua maior parte soa datada, mas como esnobar a mulher que deu 2 canções-símbolo pra década? Girls Just Wanna Have Fun (GJWHF) e Time After Time tocam até hoje e terão mais uns 40 anos de vida útil, até que nós oitentistas nos extingamos.
Dia 1 de abril foi lançada a box set She's So Unusual: A 30th Anniversary Celebration (Deluxe Edition), que inclui CD duplo e uma porção de bugigangas como fotos, livreto e adesivos (eles acham que adolescentes comprarão isso ou apostam em 40tões imaturos?). Como de costume, só escutei as canções, nada de perder tempo com o resto, até porque baixei os mp3, né? 


O CD 1 tem o álbum completo e 3 remixes: 2 de Time After Time e um de GJWHF, o menos sem graça da trinca. Dá até vontade de enfrentar uma passarela, mas, claro que não supera o esfuziante original, cuja longevidade se explica também por destoar bastante das matrizes New Wave de grande parte do álbum. Canções como I’ll Kiss You envelheceram bem mais que GJWHF, por estarem mais coladas à sonoridade de sua época. Ouça GJWHF com bons fones de ouvido e perceba o rebolado da guitarra e do baixo, tão mais molejadas do que a batida marcial New Wave. E o que dizer da inteligente produção de Time After Time (igualmente distante da robótica new wave), que coloca voz masculina como contraponto à tendência buzinada da voz de Cindy, bem no refrão?
O CD 2, composto de demos, lados B e ao vivos demonstra cristalinamente o fundamental papel do produtor pro sucesso e longevidade d’algumas faixas de She’s So Unusual. GJWHF era mais uma faixa de rock new wave; de modo algum se destacaria na multidão. Por que lembramos de Cindy, mas não de Dale Bozzio? Ponto pro produtor.
Esse CD-bônus tem cara de escavação em depósito de lixo. Quem precisa dum ensaio com som abafado no estúdio pra All Through the Night? Ou um work in progress de Time After Time, no qual a letra nem está pronta? O lado B Right Train, Wrong Track é gostoso, mas reforça a ideia de que se o produtor não tivesse feito Cyndi escapar dos maneirismos New Wave em algumas faixas, She’s So Unusual não teria entrado pra história do pop. E por falta de um, há 2 demos de GJWHF.
Só pra doentes por Cyndi Lauper. 

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