Roberto Rillo Bíscaro
Nas últimas semanas, 2 álbuns têm frequentado minhas playlists. De gêneros distintos, mas compartilhando a melancolia.
Orcas é um duo formado por Rafael Anton Irisarri, que
atua com música eletrônica e minimalista, ambiente
e Benoit Pioulard, que traz na bagagem influências shoegazer e indie pop. A
junção dessas vertentes na chuvosa Seattle resultou em Yearling, melódico e
outonal, lançado no começo do mês.
A calmaria da electronica
do mar das Orcas vem banhada em elementos de rock como guitarra e bateria, em
tom calmo, mesmo quando ensaia vagas mais fortes. Há certo clima de se navegar
em meio à eletricidade estática em algumas faixas, como nos quase 9 minutos de
Tell, instrumental ambiente-minimalista que dá a sensação de navegação no
espaço sideral em meio a suaves ondas de estática.
O teclado de Half Light remeteu este 40tão à sonoridade
prog de Tony Banks lá pelos fins dos anos 70, mas a canção é quase pop com
vocal meio a la Morten Harket. A plangência da construção harmônica da guitarra
de Selah soa como o Durutti Column, prespontada sobre um teclado Kraftwerk anos
70, numa melodia que vai se tornando mais complexa e instrumentada. Infinite
Stillness tem bateria My Bloody Valentine coabitando com um carpete de teclado,
com a inclusão de guitarras pra resultar numa pequena catarse de barulho abafado.
Acessibilizando elementos
tão díspares, Yearling é uma delícia pra relaxar e/ou preparar pro sono.
True Detective me entediou um pouco, mas serviu pra conhecer
a canção-tema, Far From Any Road, sangrento TexMex com linda harmonia vocal, que
aproxima a série a Tarantino e às histórias sobrenaturais do Velho Oeste.
O casal que forma a The Handsome Family deu sorte
quando a HBO escolheu a faixa de seu álbum Singing Bones (2003) e ganhou na
loteria quando True Detective estourou.
The Handsome Family faz música country bem tradicional,
com pinceladas de bluegrass e aquelas baladas sangrentas que fascinam há séculos.
Nada a ver com modernices aproximadoras de country com pop. Porém, a produção deixa
o som com uma sonoridade desértica, de abandono tão cara e coerente com certa
modernidade. Por isso a dupla é considerada alternative
country.
Não espere a alegria apalermada das canções de peão
universitárias. Singing Bones é sério, solene
e poeirentamente sombrio sob o sol do Oeste. 24-Hour Store é sobre uma
assombração; a incorporação do serrote musical deixa-a ainda mais fantasmagórica.
If the World Should End in Fire é quase um hino religioso a capela, com vozes
poderosas. Os mais velhos lembrarão d’O Álamo de John Wayne; os mais jovens, d’alguma
tarantinice. Talvez seja essa miragem de atemporalidade um dos segredos da
beleza de Singing Bones.
As letras sobre tendências suicidas, relações devastadas
misturam elementos naturais com lugares-comuns da contemporaneidade como
máquinas de café, xerox e telas de computador.
Desde os canadenses do
Cowboy Junkies que um disco de country não me agradava tanto.
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