Educação Inclusiva não é utopia: algumas dicas para professores
*Por Luciane Molina
A educação inclusiva não atrai tanto o
professor do ensino regular quanto aquele que atua na educação
especial. Apesar de serem modalidades distintas, com objetivos e ações
específicas, o “inclusivo” e o “especial” caminham quase paralelos
dentro de um sistema de ensino massificado e emergente.
Estou em contato, quase que
diariamente, com professores do ensino regular e do atendimento
educacional especializado. Ouço discursos dos mais apaixonados aos mais
levianos, argumentos que preservam a ideia da diversidade e, outros
alegando falta de formação ou suporte para atuar com o que é “diferente”
aos seus olhares apáticos.
Hoje decidi investir em outra
estratégia. ao invés de apontar as falhas e sugerir uma mudança de
postura, encontrarei bons exemplos para que sirvam de incentivo aos que
desejam ousar e fazer a diferença na vida de seu aluno com deficiência.
Falarei aqui do aluno com deficiência visual.
EVITE ATIVIDADES ORAIS
Na ausência de conhecimento sobre o
sistema Braille ou da tecnologia assistiva, procure auxílio com um
profissional especializado. É sempre muito cômodo investir em atividades
e provas oralmente, aquela em que o aluno apenas repete/verbaliza o
conceito aprendido. Essa estratégia só deve ser adotada se for utilizada
com todos da turma e não exclusivamente com o aluno cego. Insistir
nessa estratégia trará prejuízos no aprendizado da língua escrita,
leitura e interpretação de textos por meio do registro escrito. A pessoa
cega tem condições de ler e escrever utilizando o sistema Braille ou a
informática com leitores de tela.
COMUNIQUE O QUE ACONTECE
A expressão corporal auxilia a
comunicação verbal, entretanto quando os gestos forem usados para
apontar, mostrar ou direcionar a atenção para algum ponto específico,
convém que o professor verbalize e seja o mais claro possível para que o
aluno cego possa acompanhar sua explicação. Por exemplo, ao mostrar um
livro, diga o nome do livro que está em suas mãos ao invés de dizer
“este livro”. Chame cada aluno pelo nome ao invés de apontá-los com os
dedos. Informe qualquer movimentação ao redor para que o aluno cego
acompanhe o que acontece. Seja sempre descritivo e quando escrever no
quadro, fale em voz alta.
MATERIAIS CONCRETOS
As disciplinas são apresentadas por
meio de textos e imagens. No universo visuocêntrico as figuras
complementam o conteúdo textual, tornando o aprendizado muito mais
atraente. O aluno com deficiência visual precisa manusear os objetos e
as figuras dependem de estímulos sensoriais para serem percebidas. São
texturas, aromas, formas e relevos que passam a ser os elementos
fundamentais para o aprendizado. Agregar estímulos sensoriais aos
visuais pode ser um recurso positivo para a turma toda. Não é preciso
construir um material específico para um aluno, mas integrar elementos
diversos para um mesmo objetivo. Por exemplo, para ensinar uma reta
numérica o professor pode utilizar um barbante com nós. Argolas
entrelaçadas para ensinar noção de conjuntos, quebra-cabeça de mapa para
ensinar as regiões geográficas.
ANTECIPAR ATIVIDADES
O professor do ensino regular precisa
articular seu trabalho com o professor do atendimento educacional
especializado. Antecipar a matéria para que o especialista transcreva os
textos para o Braille ou digitalize as páginas do livro didático a ser
trabalhado pode ser uma boa estratégia, mas não delegue a esse
profissional todas as responsabilidades da preparação do seu material. O
professor do ensino regular precisa prever as adaptações e utilizá-las
em suas aulas.
ADAPTAÇÃO
Adaptar não significa entregar um
material diferente para o aluno cego ou oferecer outro conteúdo em
substituição ao inacessível. Adaptar não significa privá-lo do que não
pode compreender visualmente, mas encontrar um caminho para transmitir
determinado conceito de maneira eficaz. Cito como exemplo a escolha de
um filme dublado ao invés de um legendado para trabalhar determinado
conteúdo. É preciso oferecer a todos uma forma de participar das aulas.
Seu compromisso com a educação faz
muita diferença para a melhoria da qualidade de ensino e para que a
inclusão do aluno com deficiência visual aconteça de maneira natural. A
deficiência não está na pessoa, e sim na condição oferecida a ela para
ultrapassar as barreiras físicas, atitudinais e comunicacionais.
Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência visual. Atua com educação inclusiva e formação de professores.
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