Roberto Rillo Bíscaro
Será que os jovens fãs da inclusiva Modern Family imaginam que nos nada dourados anos 1950, uma família suburbana encabeçada por um benevolente déspota dominou as telinhas por uns 6 anos?
Tudo era amor na família Anderson. Papi ralhava com os
filhos sorrindo, mami era ama de casa ainda longe de desesperar-se e os
problemas dos filhos não iam além dum imaginário aperto com a polícia.
A família perfeita vivia num mundo classe-média sem
elemento não-caucasiano pra ameaçar a hegemonia branca. Quase sempre flagrado
fora do escritório, Jim Anderson pregava a filosofia do trabalho duro,
honestidade, enfim, as pedras de toque do Sonho americano.
Papai Sabe Tudo (título brasileiro) parece que foi
feita pra deixar o telespectador com sentimento de inferioridade por não
possuir família tão modelar. E como a série era conservadora! Num dos
episódios, um garoto que fala gírias é preterido pela filha por um jovem mais
careta, na verdade, cópia do pai. Eletra, socorra!
Pra desmanchar a sensação de disfunção familiar causada
por Father Knows Best, basta checada por cima na biografia d’um par de atores.
Robert Young, o Sabe Tudo, lutou a vida toda contra alcoolismo e depressão e a
história da atriz-mirim Lauren Chapin que fazia Kitten, a caçulinha, faz
Lindsay Lohan parecer quase sã. Abusada sexualmente pelo pai desde criança, a
atriz envolveu-se com drogas pesadas, recorreu à prostituição pra sustentar o
vício e acabou no xilindró.
Esse tipo de informação é útil pra deslumbrados
saudosistas por eras que jamais foram, que repetem a ladainha “antigamente as
coisas eram mais inocentes, mais puras”, só porque um programa de TV inventava
uma realidade conveniente.
O patriarcalismo de Papai
Sabe Tudo requer estômago resistente nos dias de hoje, mas vale conferir. Achei
diversos episódios completos no You Tube, inclusive em português.
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