Roberto Rillo Bíscaro
Séries tipo antologia são muito convenientes. Podemos ficar
semanas sem ver, porque não é preciso preocupar-se em lembrar a trama, os
atores/diretores variam e assim, o tom e qualidade dos programas. Se os
episódios são curtos, melhor ainda nessa época de múltiplos estímulos e
correria generalizada. Conferi 2 séries nesse estilo.
A inglesa Black Mirror teve 2 curtas temporadas – 3 episódios
cada – em 2011 e 2013. O Channel 4 anunciou que haverá mais programas idealizados
por Charlie Brooker. O espelho negro do título refere-se às onipresentes telas
de TVs, smartphones, tablets, PCs, que de certa forma balizam as vidas de
muitos de nós desde há algum tempo.
Com ingredientes de ficção científica, fantasia, sátira e
horror, Black Mirror é inteligente comentário sobre nossa sociedade cada vez
mais espetacularizda, onde não conseguimos fazer nada sem fofocar no Facebook,
Twitter, postar fotos no Instagram ou nos deleitamos com a vergonha alheia
vazada ou hedonisticamente postada no Youtube.
Se por um lado, seria fácil acusar Black Mirror de
tecnofóbica, por outro, fica difícil desconsiderar a seriedade da discussão
sobre os efeitos padronizadores e potencialmente manipuladores das novas tecnologias,
que permitem que grupos expressem reivindicações legitimas online, mas também
favorecem a divulgação e congregação de calhordices como fotos de tarados
encoxadores em vagões lotados. A série não culpa a tecnologia per se, mas o uso
que se faz dela.
Outro dado interessante é a capacidade das narrativas sci fi e de horror de incorporar
elementos sociais e traduzi-los em histórias, desse modo, revigorando os
gêneros e deixando os fãs sempre felizes e com o prato cheio.
As 6 histórias são recomendáveis, mas a primeira é tão
criativa e perturbadora que as demais empalidecem por inevitável comparação.
Uma fictícia princesa britânica, querida por todos pelas inclinações
ecológicas, é sequestrada e seus captores exigem um ato libidinoso explícito do
Primeiro-Ministro como moeda de troca pra libertá-la.
Os 5 episódios restantes encetam discussões sobre a
nauseante ênfase pós-moderna na “memória”; a ira contra qualquer instância
política, que mal disfarça as sementes do fascismo, a reificação de todos os
aspectos das relações sociais; a precariedade ou inexistência dessas relações
num mundo cada vez mais percebido e acessado via mediação da máquina, a
manipulação maquiada dos reality shows
e programas caça-talentos e mais.
Demais.
A norte-americana Night Visions (2001) foi produzida pela
Fox e constitui-se de 13 episódios de hora de duração, divididos em 2 segmentos
de 30 minutos. As historietas estão mais pro formato do horror “tradicional”,
com reviravoltas finais e conteúdos menos explicitamente “políticos”. Diretores
consagrados como Joe Dante e Tobe Hooper participaram do projeto, que também levou
pra trás das câmeras atores como Bill Pullman e Brian Dennehy.
Os episódios iniciais não me chamaram muito a atenção, mas,
depois a série engatou e provou ser bem divertida, malgrado o desnível.
No episódio de Brian Dennehy a gente descobre o assassino na
hora. O rádio anuncia que o serial killer
está de camisa branca. São 2 personagens e só uma está de branco. Duh!
A história com Bill Pullman foi uma das que mais gostei,
mostrando uma família idealizada num portal protegido por campo de força no
meio do deserto. Cena campestre, idílio de era dourada necessitado em tempos de
guerra, mas, as aparências podem enganar.
Episódio sem cabeça o dos amigos que caem de carro n’água,
seus corpos ficam no veículo, mas por milagre, vivem. Daí, em menos de 2
minutos descobrem sozinhos que se não disserem nada a ninguém, continuarão
vivos. Histórias sobrenaturais também precisam de verossimilhança.
Adorei o episódio com Bridget Fonda. É tipo Os Outros, mas não
envolve fantasmas.
Em termos de geração de discussão relevante, gostei muito da
história envolvendo um morador novo num edifício. Suspeito de pedofilia, começa
a ser hostilizado pelos vizinhos “respeitáveis”. Porrada nos defensores da pena
de morte ou justiça com as próprias mãos.
No You Tube há capítulos legendados, só não sei se está
completa.
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