Roberto Rillo Bíscaro
Numa de suas autobiografias, o ator Michael Caine conta que nos anos 1960 Londres começava a se modernizar e informalizar. Alguns restaurantes desobrigaram clientes do uso da gravata e fechavam mais tarde. Graças ao sucesso duma rádio pirata, a sisuda BBC1 teve que abrir as pernas e tocar rock. Os Beatles/Rolling Stones revolucionavam a música. Era o balanço da Swinging London.
Numa de suas autobiografias, o ator Michael Caine conta que nos anos 1960 Londres começava a se modernizar e informalizar. Alguns restaurantes desobrigaram clientes do uso da gravata e fechavam mais tarde. Graças ao sucesso duma rádio pirata, a sisuda BBC1 teve que abrir as pernas e tocar rock. Os Beatles/Rolling Stones revolucionavam a música. Era o balanço da Swinging London.
A TV não ficou atrás e em 1967 chacoalhou a narrativa
televisiva com The Prisoner, produzida pela ITC (hoje, ITV). Famosa pelas
inúmeras teorias suscitadas devido à nebulosidade da trama e pela lealdade dos
fãs através das décadas, obriguei-me a ver os 17 episódios da única temporada.
A premissa é dada na longa abertura: um agente secreto
se demite e é capturado não se sabe por quem (o mundo era então dividido entre
EUA e URSS). Desperta numa aldeia, paradisíaca, limpa, organizada, um sonho.
Mas, nessa aparente utopia, os nomes foram substituídos por números, os
indivíduos tiveram que se dissolver em nome do grupo, ou, antes, de uma força
tirânica que os subjuga sem que percebam. Todos são vigiados ininterruptamente,
tudo é planejado pra substituir a vontade própria. Lembrar um mundo que
conhecemos, né?
O ex-agente é batizado de Número 6 e passa a série toda
tentando escapar e evitando responder à questão: “por que você se demitiu?” Com
recursos aparentemente ilimitados à disposição, os comandantes da Vila poderiam
facilmente capturar peixe mais graúdo no contexto da Guerra Fria, que seria bem
mais fácil!
Abundante em referências orwellianas, kafkianas, cenas remetentes
à Alice no País das Maravilhas (um grande jogo de xadrez humano) e tenteando
temas como controle da mente, lavagem cerebral, manipulação de sonhos, troca de
personalidades, hipnose, tudo maquiando incessante tortura psicológica, não admira
que The Prisoner tenha se tornado cult
e influenciado roteiristas mil.
Essa afirmação ferrenha da individualidade indubitavelmente
flexibilizou as formas da telinha, mas não me foi tão agradável vê-la. Muitos
capítulos sem pé nem cabeça, os últimos 2, com sua lisergia onírica, soam
pretensiosos e, no fim das contas, tudo muito chato pro meu gosto.
Não engrossei as fileiras
de cultuadores.
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