quinta-feira, 3 de abril de 2014

TELONA QUENTE 83

Roberto Rillo Bíscaro

Na primeira metade dos anos 80, os slasher films dominaram as telonas. Filmes de baixo orçamento como Sexta-Feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984) deram lucros obscenos aos produtores. A crítica odiava, mas quem define o que é sucesso é o público.
O documentário Going to Pieces: the rise and fall of the slasher film (2006) mapeia a trajetória norte-americana desse subgênero do terror. Corretamente, Halloween (1978) é apontado como deflagrador da moda e também de diversas convenções slasher. Erroneamente, esqueceram o canadense Black Christmas (1974), precursor d’alguns elementos usados por John Carpenter. Pelo menos não esnobaram Bay of Blood (1971), do italiano Mário Bava.
O programa comenta os principais filmes, a reação de pais preocupados que seus filhos se tornassem mascarados matando em datas comemorativas – 2 lugares-comuns slasher - , a decadência e o ressurgimento do subgênero com Pânico (1996).
Famosos como Brad Pitt, George Clooney e Kevin Bacon iniciaram suas carreiras como vítimas em slashers, que na segunda metade dos 80’s já se destinavam exclusivamente ao mercado de filmes direto pra vídeo. Bobageira/bagaceira adolescente por natureza, o legal de slasher é esperar como será a próxima morte. Muita coisa indigente, quase sem orçamento, foi lançada, mas filmes como The Prowler (1981) e The Burning (1981, com Holly Hunter fazendo praticamente figuração) são bem divertidos.
Depois que Pânico recarregou a munição slasher, não apenas filmes voltaram a ser produzidos, mas também se espalharam pra muitos países e as convenções do subgênero influenciaram outros. Em 2009, resenhei uma série de TV slasher, Harper’s Island.
Going to Pieces: the rise and fall of the slasher film está completo no You Tube, em ingles com legendas em espanhol.

Recentemente, vi 2 produções comprobatórias do penúltimo parágrafo.
The Den (2014) mistura o subgênero das “imagens achadas após o desaparecimento/morte de alguém ou grupo” com um par de elementos slasher, a saber, um mascarado chacinador. Uma estudante tem como projeto pesquisar o comportamento das pessoas online. The Den é o site onde ela vive conectada e contata os tipos mais bizarros (como se todo internauta fosse freak). Um assassino começa a eliminar as pessoas próximas a Elizabeth. O ponto de vista de The Den é a de alguém que tivesse encontrado o notebook da moça. Ainda que as mortes não sejam lá aquelas coisas, há um par de sustos e possíveis links com os snuff movies. Não  é Cloverfield ou REC, mas tem suas tremidas de câmera e pode agradar quem ainda não se fartou de found footage films.

Exceto pela África, já vi slashers de todos os continentes. Ontem foi a vez duma produção espanhola, Los Inocentes (2013), esse no formato mais tradicional do subgênero. Um grupo de jovens idiotas decide passar a noite de 28 de dezembro num albergue abandonado. Essa data na Espanha corresponde ao nosso primeiro de abril. Só que 15 anos antes, um jovem com cara de nerd (parecia o Paul Pfeifer, de Anos Incríveis) fora vítima fatal duma brincadeira cruel. Precisa dizer que os moçoilos são eliminados um a um?
Tem o coroa que adverte sobre os perigos do local e aconselha os meninos a vazarem, menina mostrando teta, sexo pré-nupcial, festinha, rock and roll e elenco ruim, conhecido apenas pelos pais. Só faltou o mascarado! Mas, não contarei quem mata.
As mortes são divertidas – nada de original -, mas faltou dindim pra serem melhores. Não mudará sua, mas serve pra famintos por slasher.
Curioso que Los Inocentes faz o caminho inverso de The Den: numa sequência em que quase não dá pra ver nada, a película assume a perspectiva dum found footage film. E viva a salutar porosidade entre as fronteiras dos subgêneros dos filmes de horror. 

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