Na primeira metade dos anos 80, os slasher films dominaram as telonas. Filmes de baixo orçamento como Sexta-Feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984) deram lucros obscenos aos produtores. A crítica odiava, mas quem define o que é sucesso é o público.
O documentário Going
to Pieces: the rise and fall of the slasher film (2006) mapeia a trajetória
norte-americana desse subgênero do terror. Corretamente, Halloween (1978) é
apontado como deflagrador da moda e também de diversas convenções slasher. Erroneamente, esqueceram o
canadense Black Christmas (1974), precursor d’alguns elementos usados por John
Carpenter. Pelo menos não esnobaram Bay of Blood (1971), do italiano Mário
Bava.
O programa comenta os principais filmes, a reação de pais
preocupados que seus filhos se tornassem mascarados matando em datas
comemorativas – 2 lugares-comuns slasher
- , a decadência e o ressurgimento do subgênero com Pânico (1996).
Famosos como Brad Pitt, George Clooney e Kevin Bacon
iniciaram suas carreiras como vítimas em slashers,
que na segunda metade dos 80’s já se destinavam exclusivamente ao mercado de
filmes direto pra vídeo. Bobageira/bagaceira adolescente por natureza, o legal
de slasher é esperar como será a próxima morte. Muita coisa indigente, quase
sem orçamento, foi lançada, mas filmes como The Prowler (1981) e The Burning
(1981, com Holly Hunter fazendo praticamente figuração) são bem divertidos.
Depois que Pânico recarregou a munição slasher, não apenas filmes voltaram a
ser produzidos, mas também se espalharam pra muitos países e as convenções do
subgênero influenciaram outros. Em
2009, resenhei uma série de TV slasher,
Harper’s Island.
Going to Pieces: the rise and fall of the slasher film
está completo no
You Tube, em ingles com legendas em espanhol.
Recentemente, vi 2 produções comprobatórias do penúltimo
parágrafo.
The Den (2014) mistura o
subgênero das “imagens achadas após o desaparecimento/morte de alguém ou grupo”
com um par de elementos slasher, a
saber, um mascarado chacinador. Uma estudante tem como projeto pesquisar o
comportamento das pessoas online. The
Den é o site onde ela vive conectada e contata os tipos mais bizarros (como se
todo internauta fosse freak). Um
assassino começa a eliminar as pessoas próximas a Elizabeth. O ponto de vista
de The Den é a de alguém que tivesse encontrado o notebook da moça. Ainda que
as mortes não sejam lá aquelas coisas, há um par de sustos e possíveis links
com os snuff movies. Não é Cloverfield ou REC, mas tem suas tremidas de
câmera e pode agradar quem ainda não se fartou de found footage films.
Exceto pela África, já vi slashers de todos os continentes. Ontem foi a vez duma produção
espanhola, Los Inocentes (2013), esse no formato mais tradicional do subgênero.
Um grupo de jovens idiotas decide passar a noite de 28 de dezembro num albergue
abandonado. Essa data na Espanha corresponde ao nosso primeiro de abril. Só que
15 anos antes, um jovem com cara de nerd (parecia o Paul Pfeifer, de Anos Incríveis) fora vítima fatal duma brincadeira cruel. Precisa dizer que os
moçoilos são eliminados um a um?
Tem o coroa que adverte sobre os perigos do local e aconselha
os meninos a vazarem, menina mostrando teta, sexo pré-nupcial, festinha, rock and roll e elenco ruim, conhecido
apenas pelos pais. Só faltou o
mascarado! Mas, não contarei quem mata.
As mortes são divertidas – nada de original -, mas
faltou dindim pra serem melhores. Não mudará sua, mas serve pra famintos por slasher.
Curioso que Los Inocentes
faz o caminho inverso de The Den: numa sequência em que quase não dá pra ver
nada, a película assume a perspectiva dum found
footage film. E viva a salutar porosidade entre as fronteiras dos
subgêneros dos filmes de horror.
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