Roberto Rillo Bíscaro
A Irlanda faz parte daquela Europa que era menos desenvolvida e que se ferrou bastante durante séculos. Fomes devastadoras, ocupação inglesa e a diáspora irlandesa são parte desses infortúnios.
A Irlanda faz parte daquela Europa que era menos desenvolvida e que se ferrou bastante durante séculos. Fomes devastadoras, ocupação inglesa e a diáspora irlandesa são parte desses infortúnios.
Ano passado, Stephen Frears adaptou o livro The Lost
Child of Philomena Lee, do jornalista Martin Sixmith, que conta mais um horror
experimentado por milhares na ilha. A poderosa Igreja Católica vendeu muitos
filhos de mães solteiras pra casais em busca de adoção. Procriação fora do
casamento é pecado, então sacras irmãs de caridade resolviam o “problema” de muitas moças, praticamente escravizando-as em conventos e fazendo
dinheiro com, digo, dando um futuro melhor pra seus filhos.
Philomena dosa drama e comédia na medida correta. Phil
é uma enfermeira aposentada que, com a ajuda dum jornalista desacreditado e
desgostoso, sai em busca do menino roubado há meio século. O filme não cai na
fácil armadilha de apenas demonizar a Igreja. A viagem dos 2 a Washington é
financiada por um jornal, que, como as irmãs, não age apenas por bom coração;
querem pauta vendável.
Condicionada a crer que realmente pecara, Philomena não
mostra o ressentimento e vingança esperados pelo oxfordiano periodista. Ela
perdoa as freiras, mas a não-vingança fica relativizada com a sua decisão de
permitir que a história seja conhecida, e, portanto, adicionada, à longa lista
de argumentos contra o catolicismo.
O relacionamento de 2 personagens tão distintas – um
cínico e esnobe jornalista e uma idosa que ama romances melosos – encontra
fértil terreno pra florescer graças a Steve Coogan e Judi Dench. Como não se
apaixonar por Phil interpretada por Dame Judi? Discreta, sem fogos de
artifício, a atriz faz a arte de encarnar outrem parecer tão fácil!
Philomena, filme e personagem, é uma graça.
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