Roberto Rillo Bíscaro
Dois álbuns de estilos diversos, que igualmente me encantaram. Lançados no começo deste mês
Curto o eletrofunk
revivalista do Chromeo, mas achava que exageravam no uso do vocoder, nem todas as faixas eram tão
legais, enfim, os 2 álbuns da dupla têm defeitos.
White Women, porém, é perfeito, sem arestas, amo todas
as faixas, raro acontecimento. A tônica é ainda anos 80, com fartas infusões de
disco. Timbres, riffs, maneirismos
vocais, efeitos sonoros, tudo remete aos anos 80, época em que Earth, Wind and
Fire e Kool & the Gang davam as cartas. Os canadenses do Chromeo habilmente
misturaram o melhor do pop negro da época, evitando chatices como o
desagradável som da bateria eletrônica, uma das irritações oitentistas.
White Womenn vai te pôr pra dançar com sonoridade Chic,
como Over Your Shoulder; com influências de grupos tipo Shalamar ou Klymaxx, em
Come Alive; Somethinggood me lembrou Miami Sound Machine, mas também algo saído
dum álbum de Lionel Ritchie. O galope de Sexy Socialite prova que os canadenses
conhecem Ray Parker Jr. e progride prum final com guitarras cristalinas e vozes
tratadas com vocoder, na dose certa. O voo eletrofunk de Frequente Flyer
destina-se à Mineapolis de Prince e o balanço disco de Fall Back 2U incorpora,
além do vocoder, o sax, tão peculiar aos anos 80, que me levou a apelidar o
decênio de saxodécada. Nos momentos mais relaxantes a qualidade não cai, vide a
deslizante Lost on the Way Home, com sua reverência aos mestres Hall &Oates.
Tantas referências – e não citei a metade – jamais
descambam pra cópia-carbono, porque estão rearticuladas/atualizadas de modo a
soarem atuais e integradas, criando sonoridade própria ao Chromeo.
David Macklovitch e Patrick Gemayel compuseram 12
canções irretocáveis.
Fazia anos que Tori Amos não lançava material
inteiramente inédito. O complexo Night of Hunters era baseado em composições de
músicos eruditos. Antes houve um álbum de canções natalinas e depois de Night,
um de releituras da própria Amos de sua obra, gravada com orquestra.
Unrepentant Geraldines poderia se chamar Unrepentant
Tori Amos. A norte-americana não se arrepende do passado musical e continua na idiossincrática
trilha confessional com letras e interpretações rasgadas, do fundo das
entranhas, como em Wild Way, baladaça ao piano que abre com a declaração ”te
odeio”.
Quando desvia pra territórios meio country
engraçadinhos como em Giant’s Rolling Pin ou Trouble’s Lament, Amos derrapa,
porque qualquer uma poderia fazer essas faixas. Mas, apenas Amos e seletas como
Kate Bush e Bjork têm talento pra compor e cantar algo como Invisible Boy,
encerramento do álbum, que só com piano será capaz de me assombrar pelo resto
da vida.
Vocais de sílfide ou náiade torturada ao som de denso
ou delicado piano pontuam os momentos mais memoráveis de Unrepentant
Geraldines, basta conferir Selkie, Oysters (cujo piano não para de me fazer lembrar
o riff de teclado de Situation, do Yazoo!) ou Weatherman. O lado mais experimental desponta na ótima 16
Shades of Blue, granulada por barulhinhos eletrônicos. A filha Natasha, que já
duetara com a mama em Night of Hunters, retorna com sua voz incrivelmente rica
e quente em Promise, que apesar da marca d’água Amos balança a cabecinha pra
sonoridade das cantoras pop de estirpe negra gritona, mas sem berros na faixa.
Que Amos jamais se arrependa de seu passado e continue se expondo tão maravilhosamente.
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